quinta-feira, 12 de abril de 2012

capital virtual

A propósito de um post do Ricardo Arroja sobre o recente anúncio de um aumento de capital do BES:

A irrealidade do sistema monetário e a prova de que os próprios reguladores e eu diria até os próprios banqueiros percebem mal o próprio sistema em que operam (de resto, a própria constatação das recorrentes bolhas/crises bancárias provaria isso de qualquer forma) pode ser visualizada nos aumentos de capital dos bancos onde estes oferecem incentivos para que os clientes ou outros participem no aumento de capital com o recurso ao crédito do próprio banco.

Eu já referi este assunto várias vezes. Aqui vai outra vez:

Banco anuncia aumento de capital e oferece crédito para os subscritores do capital (estas operações já tiveram lugar e foram públicas e por isso têm o conhecimento e consentimento dos reguladores)

1. Vamos ver o que se opera ao nível do balanço partindo de uma situação inicial:

Activo: 1000

Passivo: 900

Capital: 100

2. Concessão de crédito pelo Banco aos futuros subscritores de capital

Activo: 1000 + 100 = 1 100 (100 é novo crédito criado “do nada”)

Passivo: 900 +100 = 1000 (100 é dinheiro criado “do nada” e depositado na conta DO dos subscritores que solicitam o crédito)

Capital: 100

3. Realização do aumento de capital

Activo: 1000 +100 = 1 100

Passivo: 900 + (100 – 100) = 900, a conta de DOs é debitada pelo aumento de capital

Capital: 100 +100 = 200 o capital aumenta por contrapartida do débito das DO´s dos subscritores (que tinham sido creditadas pelo crédito concedido)

4. Situação Final:

Nada em termos reais se passou, dinheiro criado do nada serviu para aumentar o activo (crédito concedido) e o capital foi aumentado e para cúmulo, os rácios de solvabilidade aumentaram:

Rácio inicial = Capital / Activo = 100 / 1000 = 10%

Rácio final = 200/ 1100 = 18%


Se alguém quiser por em causa o raciocínio faça o favor. Isto não quer dizer que este efeito se passa na totalidade dos aumentos de capital em bancos, mas em parte pode. O mais relevante é a aparente falta de entendimento generalizado sobre este efeito.

3 comentários:

  1. Caro CN,

    O exemplo que apresentou traduz um racio de solvabilidade normal que é aplicavel a analise de empresas não financeiras.

    Quanto às empresas financeiras, esse rácio, foi redifinido nos acordos de basileia, cujo calculo é muitissimo mais complexo e que pondera várias variveis sobretudo em três grupos:

    1- Requisitos de Capital
    2- de Supervisão
    3- de Mercado

    O calculo de 1- tem a ver com ponderações sobre o risco dos activos ou a qualidade dos activos (crédito) sob ponto de vista das garantias subjacentes. Quer dizer, um hipoteca desconta 50%, um credito ao consumo sem garantias desconta 100%, titulo de estados com ratings baixinhos 200%, activos sobre outros bancos comerciais uns 30% etc etc etc.

    O calculo 2- avalia o risco sistémico, o risco legal, o risco de falta de lquidez, a reputação inclusivé etc etc etc

    O calculo 3- avalia a forma como o banco está a relatar a informação ao mercado;
    .

    Portanto, esse aumento de capital do BES não pode ser considerado tão linearmente quanto a formula geral da solvabilidade. Será avaliado segundo os 3 pontos atrás mencionados e que descontam riscos vários no seu calculo.
    .
    Agora, se esses riscos tem sido correctamente considerados é que eu acho que não. Desde logo porque os «avaliadores» não tem sido sérios, desde o BCE até às agencias de notação, passando pelos vários bancos centrais de cada país que facilitam a coisa para os seus próprios bancos. Por outro lado, parte de alguns riscos que são avaliados, são-no por entidades de auditoria que, como sabemos, também não são tão sérios assim.
    .
    Rb

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  2. Rb

    Obrigado pela sua contribuição. Eu sei que os cálculos de rácios e fundos próprios bancários e outros que tais contêm vários tipos de ponderação.

    Mas por simplicidade e de resto como conceito geral é o "capital / activo" ou "capital / carteira de crédito" que se está a medir.

    E dar crédito a accionistas permite aumentar o capital social e a carteira de crédito melhorando esse rácio e sem diminuir a liquidez (reservas).

    O meu ponto é que simples facto da operação ser permitida esboça, para mim, a falta de entendimento do próprio sistema da expansão de moeda e crédito.

    De resto, se este processo fosse bem entendido, como os economistas da escola austríaca o expressam há muito tempo, a expansão de moeda para conceder crédito seria vista como a causa das bolhas e crises recorrentes na história.

    O outro ponto, é que o facto da operação aparentemente ser permitida no actual sistema, denota que os próprio não percebem bem o sistema com que operam e defendem.

    Nenhuma aumento de capital de um banco devia poder ser directamente ou indirectamente financiado por outro banco, porque essa componente é completamente virtual nas próprias entidades que podem expandir o crédito dos outros virtualmente (crescimento da carteira de crédito sem captação ou mobilização de depósitos).

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  3. Conciso é oque me apetece dizer sobre este post.Oresto é conversa

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