Pedro Arroja e os "austríacos"
Cada vez que Pedro Arroja cita Mises, Rothbard e Hayek (vou deixar a defesa de Ayn Rand para outros) como exemplos de má influência liberal, chegando-os a acusar de um estranho neo-liberalismo (explico adiante), como se isso os afastasse do seu paradigma Católico-Acton-Herculano, acabo a comentar que os "austríacos" têm origem na ... Áustria e que isso os liga à cultura intelectual católica (mas não só, não fossem os Habsburgos um exemplo do carácter supra-nacional das monarquias e de coexistência religiosa e étnica - por isso a família de Mises - judaica - é detentora de um título de nobreza).
A acusação de neo-liberalismo numa certa carga de hiper-racionalismo é feita com frequência mas no meu entender totalmente despropositada, dado que se existe um paradgima de eficientismo-maximização-de-utilidades conferindo um carácter de matematização à acção humana pode ser encontrado na Escola de Chicago - que aliás sempre tratou o austrianismo com o mais puro desdém no alto do seu "mainstream"
Pedro Arroja parece acusar Mises do seu utilitarismo e até de ter vivido à conta de empregos no governo (na Áustria tudo fez para impedir o processo de inflação pós-WWI) como se Mises fosse algum anarquista moralista e depois nos EUA de viver do Volker Fund (uma associação privada) porque isso aparentemente contradiz o seu utilitarismo (e Carl Menger foi preceptor do Príncipe...) sem ter em conta que Mises recomeçou a sua liderança intelectual na ciência económica completamente ignorado por todo o mainstream liberal pós-grande-depressão (apesar de ter previsto a recessão antes do crash de 1929) na altura centrado em Chicago (e refazendo uma vida pessoal depois de ter saído de Viena por causa dos nazis passando primeiro pela Suiça e depois como muitos outros por Lisboa) que aliás fez muito pelo crescimento do estatismo e adoptou o positivismo-empiricista radical (desde a sua fundação com Knight) que os afasta muito pouco do paradigma epistemológico do socialismo. Também Hayek foi pessimamente tratado em Chicago, que nunca lhe pagou pelo seu trabalho e só se lembrou dele à pressa quando este ganha o Prémio Nobel.
Quero assim ser bem claro para que não hajam dúvidas, se existiu alguém a quem possa com conotação negativa ser atribuída a classificação de "neo-liberal" como querendo dizer algo de liberalismo impessoal, racionalizado, de homem economicus acultural, será sem dúvida a Escola de Chicago, que tendo já passado por algumas refutações (vou-me lembrar da Utilidade como conceito ordinal e não cardinal) nunca declara estar errada, faz de conta, e segue em frente. De tal forma que todo o trabalho produzido por Chicago que depende directamente da validade da Utilidade ter de ser cardinal (o que já está refutado) de modo a poder ser medida e comparada, parece continuar como ... válido e ensinado como tal como se nada fosse. E não, não estou a invalidar "Chicago", mas de vez em quando vale a pena colocar algumas coisas em perspectiva.
Mises é utilitarista (e genial na sua defesa), Hayek evolucionista e Rothbard parte da Ética. Provavelmente a sintese das 3 perspectivas estará a ser redigida por outro "austríaco" (Soto). Também é conhecida a forma como Rothbard na sua tradição de atacar e refutar tudo e todos sem olhar a "gestão de carreira", procurou demonstrar que se a economia pode ser "value free", o liberalismo e a filosofia não o podem ser, atacando assim o utilitarismo de Mises (o seu mestre em tudo o resto).
Mas eu costumo também chamar a atenção que a própria epistemologia "austríaca" de conhecimento dedutivo a partir de axiomas não nascerá por acaso em Viena, centro do Império que mais fez pela defesa do Catolicismo mas também da possibilidade da sua coexistência com religiões, línguas e etnias (tal Império acaba por imposição do republicano anti-monárquico Woodrow Wilson que fez a "guerra pela democracia" quando já a Alemanha de Kaiser e os Austríacos tinham assembleias com voto universal muito antes do ingleses - imposição que termina com o famoso resultado que se conhece: o princípio do fim do Ocidente).
E assim deixo a sugestão de leitura desde texto no Mises Institute, centro de tantos austro-libertarians, e um dos poucos sítios onde liberalismo radical "anti-state" e cristianismo porque provavelmente um sem o outro fazem pouco sentido dado que é neste que encontramos os intelectuais da "natural law" e "natural rights".
ABSTRACT: This paper is comprised of two parts. In the first I reveal what I call the Rothbardian project in the distinguished career of the Austrian economist Murray N. Rothbard, which project is to ground historically and cohere philosophically the Austrian economic tradition with the thomistic tradition, despite his leanings on Locke. In the second part, in line with this project, I try to ground the Austrian thinker Hans-Hermann Hoppe’s praxeological defense of the principle of original appropriation on the thomistic natural law tradition.
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