sexta-feira, 19 de agosto de 2005

"O anti-catolicismo é o anti-semitismo dos intelectuais"

Assim disse Patrick J. Buchanan. Não creio que seja o caso de CAA, mas ...

O argumento parece ser que a adesão voluntária a uma organização livre e suportada pelos seus "associados" como a ICAR provoca efeitos colectivistas estatistas inevitáveis.

Diz CAA: "Ser católico significa, antes de tudo o mais, a submissão à ICAR; a diluição do indivíduo na massa dos "fieis" seguidores dos dogmas e das regras comportamentais impostos de fora para dentro - todos insindicáveis, claro."

Mas então e os efeitos da adesão involuntária ao centralismo democrático moderno suportado pelo aparato estatista, que mais não faz que a cada década combater a autonomia individual, das familias e comunidades? Será invenção católica? E aqueles países sociais-democratas protestantes na Europa do Norte? E a pobreza relativa da protestante Escócia (isto por causa da alegada inferioridade económica católica, se isso fosse critério que não é - relevante é o respeito pela propriedade privada).

Históricamente, a "submissão" à ICAR, induziu positivamente na mente da civilização europeia que não existe um monopólio de poder e até de "Lei": existia a lei do Principe/Rei e a lei da Igreja (e ainda outras camadas de auto-soberania, como as Cidades-Estado, os conselhos profissionais, etc) e ainda os senhores locais.

Talvez um dos males (que não o é) da ICAR seria o seu pacifismo crónico quando se depara com os seus criticos. Por isso é tão frequente e tão fácil a crítica à mais antiga e maior organização humana - e se o tempo e dimensão mede "menos imperfeição", a ICAR será a "menos imperfeita" de todas. Agora diz-se "A ICAR foi e é uma organização de poder". Todas as organizações são de "poder" em sentido lato. Por isso o anarquismo utópico pretende acabar com todas elas. Em sentido restrito (poder= coerção fisica) no entanto, a única organização que nasce do exercício do poder é o Estado.

Quando se diz: "Quanto mais poderoso for um Estado no que toca à facilidade de imposição de condutas aos cidadãos, mais desimpedido está o caminho da ICAR para conseguir os seus intentos através da conquista de posições de influência no aparelho desse mesmo Estado."

Mas isso é verdade para qualquer religião. Pergunto eu: quem proibiu o alcool na America, foi o "Catolicismo" ou o "Protestantismo"? Quem é o KKK - "Catolico" ou "Protestante"? E actualmente, o que dizer do cristianismo-ultra-sionista-americano e a sua interpretação biblica de que primeiro tem de se estabelecer uma Grande Israel para esta depois ser destruida pelo Armagaddeon. - o que os torna uns estranhos aliados de todas as politicas duras no médio-oriente?

[Não se trata aqui de atacar o protestantismo para defender a ICAR, que não faria sentido, mas na verdade é "apenas" à ICAR que se encontram defeitos e a sobre-valorização cabe a todos os outros]

Lembram-se sempre de atacar o catolicismo, por, apesar de nos países católicos a liberdade de costumes ser na prática maior que nos protestantes (experimentem estar à mercê do moralismo protestante), a ICAR ter uma posição de princípio sobre o aborto (e o casamento). Logo esse, onde na prática a morte de um ser humano é menorizada por conveniência económica.

Vamos agora a

"Muito por isso, é que, tradicionalmente, nos países católicos (por exemplo, os da Europa do Sul e os latinos-americanos) é enorme a propensão para a intervenção estatal em contraste com as preocupações de limitação da acção do governo que existem no mundo anglo-saxónico, particularmente na América"

Fácil e auto-evidente? Não. A realidade do século 20 é que foram os países anglo-saxónicos que menos sofreram (ilhas isoladas das destruição em massa) com as guerras e para cujo desastre muito contribuiram. O Papa Benedito XV (e as aparições de Fátima?) tentou por todos os meios evitar os males da Grande Guerra. Foi Woodrow Wilson (protestante) que, tendo uma particular repulsa pelo Imperio Austro-Hungaro, a monarquia ainda por cima Católica e lider da Contra-Reforma, tomou a decisão contra a sua plataforma de eleição, intervir numa Guerra que acabou por ser responsável pela destruição do legado civilizacional europeu, permitindo a subida do comunismo e o inevitável fascismo.

Tudo isso nasceu da ideia pouco católica (e contrária à pratica dos séculos anteriores e da Teoria - católica - de "Guerra Justa"), da vitória total. Na Grande Guerra, tornou o império "anglo-saxónico" britânico de maior do mundo, para ainda maior. Na segunda, pelas decisões de Churchill que tiveram o efeito contrário ao que desejava, destruiu o Império Britânico mas ficamos com a emergência EUA.

Já a Austria, o centro da influência Católica na Europa Central (com mais de mil anos, centro de um imperio ultra-descentralizado) foi completamente destruida como imperio relevante na Grande Guerra e entregue à influência do nazismo. Vamos lembrar que Mussolini se opôs enquanto pode à anexação de Hitler da Austria (e até pediu secretamente a excomunhão de Hitler), mas foi desprezado pelo domino Anglo-Saxonico da Liga das Nações, com os resultados que se viram?

Mas...já agora, recordem-me, qual o nivel de vida da actual Austria e as zonas Católicas Suiças e Alemãs?

Agora, à ICAR, perante a destruição, e a ameaça comunista, conviveu como todos com o único poder alternativo - o fascismo, que trouxe o corporativismo, etc. Mas é preciso recordarmos que a Europa pré-Grande Guerra era livre. O nivel de comercio internacional, só nos anos 90, se equiparou aos anos de pré-grande Guerra.

À ICAR não cabe o papel de definir regimes ou abraçar ideologias, tal com não cabe às outras religiões, mas de conviver com a realidade humana tal como ele se apresenta, fazendo as escolhas e tomando as acções dentro da ponderação do "deve ser" e "pode ser". Acima de tudo que a realidade social seja mutável mas preservando-se dentro do que "pode ser" a alternativa mais "natural" (e a alternativa fascista era mais natural - e assim aceite pela maioria da população -que o comunismo).

Usando referências a propósito do livro How the Catholic Church Built Western Civilization, de Thomas Woods:

* "We find within the Church the first political theorists demanding that all human beings, both Christian and non-Christian be recognized as possessors of rights to self-government and basic natural rights. It is within the Church where we find the greatest oppositions to the increasingly destructive wars of the modern world, and it is in the Church where we find the first discourses on private property as the extension of the sacred self-ownership possessed by all men. "

* Sobre o episódio de Galileu (umda das fontes preferidas anti-ICAR):

"Galileo was only one of a large community of clergy and laypersons who had been seeking to further explore and explain the Copernican system of a heliocentric universe. Galileo’s observations were routinely confirmed by Jesuit astronomers who possessed their own telescopes, and Roman clergy held activities in honor of his scientific achievements. Galileo only ran into trouble when he insisted on teaching his theories as established facts in spite of the fact that Ptolemaic geocentric astronomy still better explained a number of phenomena better than Galileo’s own theories. Convinced (rightly) by a number of scientists that Galileo had yet to make his case using established methods, the Holy See censured Galileo.

Unlike in the Protestant world where Galileo was savaged for teaching a theory that was allegedly unbiblical, Galileo was free to research and write anything he pleased provided he admitted that his theories had yet to establish practical superiority over the theories of Ptolemy. It was hardly the witch hunt contemporary junior high school teachers would have us believe, yet the image of the Catholic Church as an enemy of science has endured."

* o papel dos monges:

"Among other things, the monks taught metallurgy, introduced new crops, copied ancient texts, preserved literacy, pioneered in technology, invented champagne, improved the European landscape, provided for wanderers of every stripe, and looked after the lost and shipwrecked. Who else in the history of Western civilization can boast such a record? The Church that gave the West its monks also created the university..."

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