quinta-feira, 6 de março de 2008

O actual sistema monetário: quem beneficia e o que fazer

Todos os Bancos Centrais representam uma união de interesses entre o Estado (para o financiamento dos déficits), a banca (para terem acesso à capacidade de criação de dinheiro para conceder crédito sem ter de pagar o preço real pela captação de poupança aos pequenos e médios aforradores) e os grandes utilizadores de crédito (beneficiam em primeira ordem das novas quantidades de dinheiro para o aplicar a preços que não reflectem a nova relação entre quantidade de moeda e bens).

Os economistas fazem parte do pacote (generalizando) porque vão trabalhar para o Estado-Bancos-Empresas e o mundo académico onde propagam uma completa falsidade científica - a que a economia funciona melhor (argumento utilitário) ao quebrar-se a ligação entre a poupança voluntária e o investimento (e ignorando por completo o argumento ético do efeito redistributivo da desvalorização permanente da moeda para beneficiar o complexo Estado-Banca-Grandes-Devedores).

Perguntem-se como é que certos raiders de bolsa (cuja função económica é importante e existiria de qualquer forma) constroem fortunas com o recurso ao crédito? Porque num ciclo de expansão, o crédito é mais abundante e barato do que o seria num “sistema natural” (reservas de 100% ou se quisermos, liberdade monetária - esta daria lugar àquela), tendo assim acesso facilitado a elevadas quantidades de moeda e comprando activos a preços que não reflectem ainda a desvalorização induzida pelas novas quantidades de dinheiro colocadas na economia.

O segredo é perceber estes ciclos, entrando na melhor altura e saindo antes de a bolha rebentar. Na verdade, um bom timing permite depois do rebentamento da bolha, comprar aquilo (ou outra coisa qualquer) que se vendeu no topo (auferindo um lucro puro facilitado pelo acesso fácil ao crédito via criação monetária pelo sistema bancário) a preços extremamente deprimidos dada a crise económica – que na verdade representa o processo de cura e não a doença, reequilibrando o valor do investimento à poupança realmente existente. Relação essa que é quebrada quando se permite que o investimento tenha ligar com o recurso a pura criação monetária em vez de este “ter” de convencer a poupança existente a financiá-lo (o que significa ter de pagar o preço – taxa de juro – justo). O que é que o sistema incentiva? O recurso ao endividamento por comparação ao capital próprio, já que moeda e crédito passam a ser a mesma coisa (tal como nos Bancos Centrais, a moeda que emitem tem como colateral o crédito ao Estado e à Banca).

A velha memória de poupar e "guardar o dinheiro em casa", retendo assim a capacidade de independência do sistema financeiro, desvanece-se. Antes, dada a contínua valorização do dinheiro (ou seja, descida dos preços) era possível deter pelo menos parte da poupança “em casa” auferindo de um juro sem juro conferido pela contínua descida de preços (ou no mínimo a retenção da poder aquisitivo dessa poupança).

Hoje, com a contínua desvalorização da moeda, só para reter o valor da poupança somos obrigados a conceder crédito aos Bancos (“depósitos” à ordem e depósitos a prazo). E o sistema financeiro adora isso. Os economistas pensam que é a forma (subtilmente compulsória) de existir mais crédito e por isso mais investimento. Mas ainda que exista um factor real de poupança forçada, mais uma vez, é possível realçar negativamente o efeito redistributivo de muitos a favor de poucos, assim como a evidência dos permanentes ciclos económicos que aumentam a incerteza mais do que o risco em si.


E assim, para não sermos ainda mais prejudicados com o sistema, é racional recorrer ao crédito, principalmente nos primeiros estágios de um ciclo de expansão. Tentemos também auferir da situação de facto.

Mas como no fim, tudo se paga, o melhor é limitar o crédito à casa e amealhar ouro físico (ex: libras de ouro) como poupança e protecção, e sim, investir também no mercado de capitais que apesar do sistema monetário, e não por causa do sistema monetário, consegue ir cumprindo a sua função económica.

Sem comentários:

Enviar um comentário