sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Ab initio

Chegado a esta casa, cumpre-me, antes de mais, agradecer o convite para a mesma, em especial ao André Azevedo Alves, ao Manuel Menezes Sequeira e ao Carlos Novais. Dado que há muito tenho vindo a alimentar a ideia de me juntar a um projecto deste género que, julgo, cada vez faz mais falta em Portugal, não posso senão considerar uma grande honra poder associar-me ao mesmo.

Sendo assim, para começo de conversa, e dado que estou a elaborar uma dissertação de mestrado sobre Friedrich A. Hayek, nada como começar por uma breve análise do caminho para a servidão que o país percorreu.


Portugal cumpriu-o em grande nestes últimos 36 anos. Não chegámos a ter um sistema comunista, mas também não tivemos um sistema liberal. Seguimos, portanto, a 3.ª via, sobre a qual Hayek afirmou levar inexoravelmente à servidão. Senão, vejamos: Os portugueses tornaram-se dependentes da banca portuguesa. Esta, por sua vez, tornou-se dependente da banca europeia e mundial. O Estado, ajudando à festa, com os seus interesses pouco transparentes, mascarados pela ideia do Estado Social - que cada vez mais acho que é melhor arquitectado num sistema liberal, que não confunda Estado Social com Estado dos Comensais Interesses Vigentes, que vai alargando competências para dar emprego aos boys e extorquir os contribuintes para os manter - agravou a dependência, inserindo-nos na CEE como forma de consolidação do regime, a troco de praticamente nada, e entregando ainda de bandeja os sectores tradicionais da nossa economia, como as pescas e agricultura. Com o Euro - com o qual estou genericamente de acordo, note-se - perdemos os tradicionais instrumentos de manipulação monetária, que em muito ajudam nas crises económicas, mais uma vez agravando a dependência - embora este seja um instrumento com um pendor keynesiano.

A esmagadora maioria da população está dependente do Estado, e este, por sua vez, está dependente do estrangeiro. A dependência financeira acentua a falta de liberdade. Sem liberdade económica, não há liberdade política. Ou seja, perdemos a soberania e a independência.

Por isto, no actual estado de coisas, onde em vez das gerações futuras e da independência do país, é o aqui e agora dos Comensais Interesses Vigentes que toma primazia na desgovernação, apetece dizer, parafraseando Hayek e a famosa expressão que tomou emprestada de Keynes, que "se nos concentrarmos em resultados imediatos, o que certamente estará morto no longo prazo é a liberdade" (Law, Legislation and Liberty).

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