Rui Ramos fala sobre Charles Murray no Público (assinatura).
"Há 20 anos que Murray incomoda os cães de guarda do Estado social. No seu último livro, In Our Hands. A Plan to Replace the Welfare State, não sugere afinações, mas a substituição do corrente modelo social por outro. Murray considera-se a si próprio um "libertário". No entanto, ao contrário dos outros sequazes dessa fé, não pretende baixar impostos. Admite que o Estado continuará a transferir rendimentos de uns indivíduos para outros, como faz actualmente. Mas sugere um modo diferente de efectuar essa redistribuição. O Estado, segundo Murray, deveria abolir a Segurança Social, o serviço nacional de saúde e todos os subsídios destinados a aliviar a pobreza, para os substituir por uma única transferência de 10. 000 dólares anuais para todos os indivíduos maiores de 21 anos, que cada um gastaria como quisesse. A única obrigação dos destinatários seria a de reservar 3000 dólares para um seguro de saúde que cobrisse acidentes e doenças graves.
Charles Murray calculou todos os custos e todas as consequências do plano. Tal como os espíritos de Natal no conto de Dickens, tenta-nos impressionar mostrando o presente, o futuro e o passado. O presente consiste na incapacidade do Estado social, apesar das enormes riquezas à sua disposição, para erradicar a pobreza. O futuro, num aumento incomportável das suas despesas. O passado, num outro tipo de sociedade, anterior ao Estado social, em que um intenso voluntariado procurava, sem interferência do poder político, criar garantias de uma vida decente para todos - teria sido o caso da América no princípio do século XX. (...)
Mas há outra coisa: o fracasso das teorias ditas "libertárias" (ou neoliberais, como se diz na Europa) para constituírem plataformas políticas plausíveis. Murray admite esse fracasso, ao reconhecer que o seu plano ocupa o lugar de uma proposta libertária mais radical, que o público não aceitaria. O plano, de resto, é só para os americanos. Em relação aos europeus, Murray não tem esperanças.
As censuras de Murray ao Estado social permitem perceber porquê. A sua tese principal é que o Estado social criou uma segunda natureza humana, sobretudo na Europa: uma humanidade disposta a encarar a vida como mero passatempo, para quem o mais importante é minimizar os esforços e os sacrifícios. Mas se é verdade, a denúncia das injustiças, ineficiências e inviabilidade do regime não basta para abrir a porta a uma mudança. "O Estado social destrói-se a si próprio", diz Murray. "
Charles Murray está certo na abolição, quanto á proposta da substituição da segurança social e sistema de saúde (e suponho educação) por um subsídio fixo anual, a ideia terá méritos, mas é preciso não esquercer que:
* levantando-se os entraves ao livre contrato e despedimento e as barreiras á entrada (e saida) de novas empresas, poucas ou nenhumas razões existem para existir desemprego.
* com uma diminuiçao brutal de impostos e um crescimento económico muito mais acelerado, o rendimento disponivel seria suficiente para que o sector privado providencie formas de protecção da pobreza.
Portanto, para quê substituir e não abolir?
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