quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

Os pacifistas tinham razão

Pacheco Pereira fala hoje (Público) nos movimentos do final do século 19, início do séc.20. Aquele caldeirão que...

"No seu conjunto um pouco heteróclito, propaganda anarquista, sindicalista, pacifista, antimilitarista, antitouradas, vegetariana, neomalthusiana (ou seja, a favor do controlo dos nascimentos), homeopática, espírita nalguns casos, era a contracultura popular na época, que circulava entre um pequeno mundo de artesãos urbanos, tipógrafos, cinzeladores, marceneiros, canteiros, fragateiros, e mais meia dúzia de profissões já extintas. Era lida também por estudantes e intelectuais, quase sempre os mais remediados e desenraizados, vivendo o mundo mítico das mansardas, escrevendo versos e sonhando com uma versão social da Dama das Camélias no meio das chamas da revolução. "

A razão deste comentário é que o "pacifista, antimilitarista" na altura não podia ser acusado de "idiota útil" porque ainda não existia bloco soviético.


A verdade é que nos anos que precederam a Primeira Guerra Mundial, surgiam muitos movimentos anti-militaristas que viram com perfeita claridade o que se desenhava.

O imperialismo, o complexo militar-industrial (nas palavras mais tarde do conservador Eisenhower), preparava-se para o pior dos crimes, a obscena futilidade de uma guerra mundial por coisa nenhuma. Tão ridicula foi, que na grelha redneck de raciocínio neo-conservador, foi a Aústria que enfrentando um "Estado Terrorista", se vê destruida porque os aliados foram no socorro dessa Estado (A Sérvia) e os seus aliados (Rússia e França - estranha lógica, uma república iluminista companheira duma monarquia absoluta com o sonho de domínio pan-eslavo), a que se junta o wilsonianismo da "guerra para acabar com as guerras" e fazer "o mundo masi seguro para a democracia", no meio do seu anti-monarquismo. E é nas suas cinzas e por causa das cinzas que surge o comunismo (dificilmente teria chegado ao poder), o fascismo, o nazismo (difícil se não tivessem forçado propositadamente a queda do regime do Kaiser), os problemas de fronteiras, as várias populações espalhadas por vários Estados, uns impérios e as suas monarquias ancestrais propositadamente destruídas, outros impérios vencedores com o território alargado.

Os pacifistas e anti-militaristas tinham razão e o seu propósito era evitar uma guerra (na realidade duas, ou três se contarmos com a guerra fria) que acabou por ser o veículo para a experiência de várias utopias. Uma vergonha para a civilização. Todas as tentativas de apontar que uns eram "bons" e outros eram "maus "e que alguma justificação havia para algum dos lados são ridículas senão vergonhosas.

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