domingo, 21 de setembro de 2008

A CRISE FINANCEIRA E O PRAGMATISMO

João Miranda no DN:

Os mercados não se dão bem com políticos pragmáticos. O bom funcionamento dos mercados depende de princípios abstractos: respeito pela propriedade privada e pelos contratos, integridade da moeda, responsabilidade individual e liberdade contratual. A pior lição que se pode tirar de uma crise é que os princípios são dispensáveis, mas essa é precisamente a lição que os pragmáticos retiram das crises. As soluções propostas pelos pragmáticos tendem a desrespeitar os princípios fundamentais dos mercados financeiros. Por exemplo, a injecção de capital nos mercados mina a integridade da moeda e a nacionalização de empresas falidas transfere responsabilidades individuais para o público em geral. O pragmatismo causa problemas estruturais e torna os mercados financeiros mais propensos a grandes crises. A injecção de dinheiro fácil nos mercados estimula o risco e cria bolhas especulativas. A nacionalização de empresas falidas desresponsabiliza os gestores, credores e accionistas e desincentiva a compartimentação do risco.

(...)

As soluções que os pragmáticos costumam propor em cada crise aparentam ter grandes vantagens de curto prazo. Ninguém vai à falência, ninguém vai para o desemprego. Por algum tempo torna-se possível ignorar a realidade. Mas, a longo prazo, essas soluções contribuem para prolongar e agravar as crises. Existe uma boa razão para que os princípios devam ser sempre respeitados: o respeito permanente por princípios minimiza os efeitos nefastos criados pelo senso comum, pelos interesses de curto prazo e pela arbitrariedade humana.

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