segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Epistemologia e o sentido prático

Diz Pedro Arroja "E porque é que pessoas informadas, lidas, inteligentes e intelectualmente honestas caem neste pecado? Porque tomam por base a obra de certos autores como von Mises. E estes autores consideram, à la Kant, que a ciência económica é uma ciência lógico-dedutiva derivada de princípios estabelecidos à priori. Em conformidade, a validade de uma teoria económica mede-se pela sua coerência lógica, não pela sua aderência à realidade. Para estes autores, a realidade não interessa para nada no sentido de confirmar ou infirmar as suas teorias."

Repare-se como se pretende fazer a afirmação à priori de que não é possível inquirir sobre as leis económicas pelo apriorismo. Sendo uma contradição em si mesmo, não pode ser verdadeira. Por outro, por via empírica é impossível pretender provar que a lógica-dedução não tem capacidade de deduzir leis da acção humana.

Quanto ao empiricismo, este apenas fotografa e descreve um instante ou sequências de instantes onde está envolvida a subjectividade e o livre arbítrio da acção humana. Pretender estudar a acção humana, chegando a modelos que nos dizem que se a variável X, passa de 1 para 2, automáticamente as pessoas vão comportar-se da forma y, e daí tirar leis universais da economia, como se estudassemos física a partir das suas constantes, é, desculpem-me lá, uma completa estupidez. É uma cegueira que contaminou a economia e que tem produzido toneladas de inutilidades. A econometria e a estatística são úteis como ferramentas que descrevem um passado e tentar fazer previsões assumindo constantes. Mas estas constantes não existem. O ser humano não é uma máquina.

Acrescento que uma teoria consistente não é necessáriamente verdadeira. Mas uma teoria verdadeira tem necessariamente de ser consistente.

Ter em conta que Pedro Arroja fez a afirmação citada no contexto de perguntar se é correcto ou não a acção de nacionalização e forte intervencionismo pelo governo americano, pretendendo demonstrar que os liberais que são contra estão desconectados da realidade e só se preocupam em ser "consistentes".

Em primeiro lugar, ainda antes de discutirmos a tentativa de minorar as consequências é preciso avaliar se no que respeita às causas, existe alguma falha na teoria dos ciclos económicos.

Em segundo lugar, é preciso lembrar que já tivemos outras crises parecidas onde o intervencionismo posterior foi forte para evitar falências bancárias, etc:

- Crash de 1987
- Default dos Russian Bonds
- Long Term Capital

Em todos eles, tiveram lugar injecções massivas de moeda pelos Bancos Centrais e arranjinhos entre a elite de Wall Street para minorar os efeitos e em cada um deles falou-se da questão da regulação, dos riscos sistémicos, etc.

Pois parece que não funcionou.

E eu pergunto o seguinte: será que actual crise na sua enorme dimensão - teria lugar se em cada uma das crises anteriores se tivessem deixado as forças de mercado e o direito (falência) operado na sua totalidade?

Não será que o "sentido prático" de aceitar o intervencionismo citado nos casos anteriores não conduziu directamente à formação da actual crise? Será "prático" e "realista" atirar para a frente uma crise que um dia não terá qualquer tipo de salvação?

Uma nota final sobre a classe priveligiada que enriquece pelos efeitos produzidos pela expansão monetária, que todo o crédito permite para todo o tipo de operações. Todas as operações de salvamento, de uma forma ou outra, protegem esta classe. Existe assim um complexo financeiro-industrial-banco-central que produz toda uma classe beneficiada pela expansão do crédito por criação monetária, que nesses momentos se julgam bigger than life. Nestas bolhas, figuras como Berardo que percebem este movimento, desde que saiam a tempo (não parece ser o caso) acumulam enormes fortunas por este processo.

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