terça-feira, 10 de agosto de 2004

"Follow the money"

"The whole aim of practical politics is to keep the populace alarmed by menacing it with an endless series of hobgoblins, all of them imaginary. "

– H. L. Mencken

Faz parte da natureza própria do Estado e do seu instinto de sobrevivência contra reduções do seu peso sobre a sociedade civil, vender perigos e emergências, ameaça de caos e desordem na economia e segurança, cada vez que a sua presença é posta em causa. Os intelectuais fazem muito por isso - à esquerda e direita todos têm a sua versão da inevitabilidade e necessidade da centralização numa élite política (mesmo que para decidir "para todos"), da capacidade de decidir grandes programas, seja na educação "para todos", poupança para a reforma "para todos", etc.

Como então explicar a ordem civil, liberdade e progresso económico antes da Grande Guerra (e o começo do socialismo e social-democracia) tendo os Estados um peso inferior a 10% (e isso inclui os próprios EUA), comparado com os mais de 50% actualmente. Como é que a moeda estava essencialmente fora do planeamento dos Banqueiros Centrais (muitos nem existiam sequer) e permitia um mundo sem inflação e as taxas de juro eram terrivelmente previsíveis? E funcionava! (Perguntam agora, e então porque é que mudou? Porque os Estados precisaram de se financiar e os Bancos gostaram da ideia de uma moeda que se pode fabricar para conceder crédito ou ajudar um Banco em "dificuldades" - termo aplicável a um Banco que emitia mais notas do que o Ouro que detinha).

E tudo isto me faz lembrar o triste cenário de Nova Iorque sobre alertas terroristas logo a seguir à Convenção Democrata. Michael Moore (por falar nisso, as suas manipulações são de menor gravidade do que a dos outros) tem a sua razão na análise da cultura do medo e no princípio que poucas vezes falha do "follow the money". Só não percebe que a cultura do medo também faz parte do histerismo habitual da esquerda sobre como se não for o Estado a acolher as pessoas necessitadas o mundo entra em colapso, mas o contrário é mais verdade porque todos as pessoas têm muitas necessidades. Existem muitas formas de guerra e manipulação.

No sector liberal, cuja análise gosto sempre de fazer, ignora-se com frequência o princípio do "follow the money".

A esquerda não o esquece porque associa sempre lucros a reduzida honestidade ignorando por completo que as falhas do capitalismo devem-se à presença do seu querido Estado que tem a capacidade divina de distribuir favores e desfavores - os comunistas ao menos foram honestos propondo o fim da propriedade privada, já o socialismo democrático critica as consequências do seu próprio sistema. Enquanto a sociedade civil não encontrar em pleno a capacidade de auto-regulação conferido pelos direitos naturais à propriedade e livre contrato, será sempre um acto de sobrevivência que o mundo empresarial procure defesas e alguns mesmo, tirar partido em pleno, dos intrumentos que o Estado democrático ou não, põe à sua disposição.

Na direita, uma parte assume totalmente a necessidade do mundo empresarial influenciar as "políticas" (protecionismo, o sistema monetário, apoios à tecnologia, agricultura, à formação profissional, ao emprego, etc) outra gosta de acreditar no "conto de fadas" sobre como o sistema funciona.

O que lembra ter lido à tempos, a defesa cândida (por parte de um daqueles liberais optimistas que acham que defender tudo o que o maior "Estado" da história se lembra de fazer é defender o próprio Liberalismo) do Grupo Carlyle na questão da privatização da GALP, mais ao menos nos seguintes termos: "Dizem que é um grupo de interesses da direita da Bush mas muitos e prestigiados Democratas têm sempre tido altas funções na Carlyle". Ouviram bem, uma grande empresa que vive de negócios com o Estado (defesa, petróleo, etc) Americano é idónea porque contrata todo o sistema político para os seus quadros e os seus negócio são na maioria feitos com o Estado (essa grande entidade idónea). Este tipo de idealismo ingénuo comum em sinceros liberais deixa-me muito pessimista. É por isso que também sou conservador. E anti-Estado.

"Folow the money" é um regra simples para compreender o "capitalismo de Estado". A nacionalização do dinheiro foi o primeiro grande passo e aconteceu na sequência da necessidade de financiamento da Grande Guerra e a sua luta de galos entre Impérios. A social-democracia e a crescente centralização da capacidade legislativa criou um ambiente em que a Esquerda poed apontar os interesses das empresas nas origens de muitas coisas e a Direita aponta a ineficiência e interesses duma elite intelectual iluminada e alguns (cada vez menos na Direita) nos problemas das escolhas maioritárias e o problema ético da imposição às minorias (sendo a maior, a descriminação de quem é pagador líquido de impostos contra os recebedores líquidos). Ambos têm razão, alternadamente.

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