terça-feira, 24 de agosto de 2004

Neocons treason II

Todas as generalizações são abusivas e injustas. A primeira geração que começou com Irving Kristol e Gertude Himmerfalb não é a mesma da segunda de William Kristol. Nem a real motivação e bondade dos pontos de vista de muitos liberais europeus filo-neoconservadores deve ser posta em causa.

A razão porque é irreconciliável a luta dentro do movimento conservador americano (e "libertarians") entre paleos-tradicionais (em larga minoria) e neocons é um pouco estranha para quem está de fora, incluindo ou sobretudo para a direita e liberais europeus.

Os primeiros fazem questão em não esquecer a Nação americana como aquela em que o Estado Federal era mesmo "mínimo" e onde o Presidente e o poder executivo eram suposto terem um carácter semelhante ao da Federação Suiça (ninguém sabe quem são). Os segundos trouxeram uma nova missão estranha ao Ethos americano: um carácter universal e internacionalista - o bom império - e a aceitação das instituições sociais-democratas, principalmente se estas são compatíveis ou até necessárias para a sua ideia de império benevolente.

Para quem vê de fora, como apesar de tudo, a sociedade civil em muitos aspectos ainda funciona melhor que no resto do mundo, é razoável que olhe para o neo-conservadorismo como algo que conjuga o liberalismo com o que chamam de valores morais da democracia. Compreensível. O problema é como justificar que depois do "Império do mal" ter acabado pacificamente e observado que as "massas oprimidas" nem se preocuparam em procurar culpados, vamos agora viver num estado de guerra eterno para alcançar a paz eterna por falta de paciência para que outros "males" que não são da nossa conta, sejam resolvidos pelos próprios.

Vivemos no chamado militarismo ao centro, uma tentativa por um bom militarismo. E também um certo extremisno ao centro, uma tentativa pelo bom extremismo. E um certo desejo de induzir revoluções, desta vez, uma boa revolução.

Pessoalmente, como observador (apesar de tomar parte na discussão), o tema apresenta infidáveis momentos de uma boa discussão, e só por isso, o neo-conservadorismo têm no mínimo a seu favor, agir (embora qualquer tese que justifique ainda melhor que as anterior, qualquer acção do Estado, seja inevitávelmente vencedora - é um caminho fácil e seguro, difícil é tentar que os sistemas políticos se abstenham de querer fazer um qualquer bem, quando têm o poder legislativo e o financiamento compulsório dos impostos, para estarem sempre a tentarem fazer um qualquer bem).

Agir pelo menos, permite observar resultados. Tirar conclusões depende depois, de cada um de nós. Mas aí, o neoconservadorismo, esconde e confunde mais do que esclarece. Por eles, a história do mundo começa com Hitler e tiram todas as conclusões a partir daí. Nunca, mas mesmo nunca analisam o desastre da Grande Guerra, como começou e acabou. E são capazes de falar do ataque dos Japoneses sem nunca referirem o bloqueio petrolifero (por falar nisso, os japoneses foram aliados na Primeira Guerra - tal como Itália) apelidando-os de "militaristas imperialistas" (na verdade, a presença na Manchúria era estratégico contra Estaline e se aí tivesse continuado teria impedido que o comunismo se espalhasse sem rédeas pela Ásia, por exemplo, na Coreia, uma antiga colónia do Japão) quando no início da Segunda, o Império Britânico era o maior de toda a história (e porventura o mais virtuoso de todos. Até Hitler o admirava e tentou compatibilizar o tradicional desejo alemão de conquista territorial a Leste com ele - o seu problema, claro, era a anormalidade do seu regime, conjugado com duas tradições: a coragem dos Franceses (hoje, erradamente do ponto vista histórico posta em causa pelos anti-anti-americanos) e a estratégia com séculos dos Britânicos em não permitirem qualquer espécie de império sombra no Continente).

Enfim, como digo, a discussão é interessante e quase desejo que nunca acabe. Já para os conservadores tradicionais (paleos, hard right e grande parte dos libertarians), o seu desejo de regresso a outros tempos pode ser romantica, "but them again", como disse Churchill, "os americanos fazem sempre aquilo que é certo depois de experimentarem tudo o resto".

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