sábado, 14 de outubro de 2006

Causa Liberal

Causa Liberal

SALAZAR: MAIS OBSERVAÇÕES LIBERAIS

Alguns comentários provocados pelo recente texto sobre Salazar demonstram que o espírito futebolístico continua a dominar as mentes menos preparadas para debater temas políticos. Entre as características principais do liberalismo clássico são o espirito aberto ao diálogo e a capacidade de distinguir entre louvor e análise.
Imaginemos um inquérito destes em França onde os organizadores começassem por omitir o nome de Napoleão Bonaparte. Depois de ceder aos protestos imaginemos o que sucederia a seguir. Fúriosas acusações de bonapartista, legitimista ou jacobino? Ou será que os franceses, depois de dois séculos, já adquiriram mais maturidade?

Evidentemente, o caso Napoleão não é exactamente parallelo ao de Salazar por muitas razões. Em primeiro lugar o tempo que passou. Talvez a Cristina tenha razão e teremos que esperar dois séculos para discutir Salazar num ambiente mais calmo. Eu não penso assim. Pelo contrário, mais longe estamos da época salazarista mais dificil é entender as condições nacionais e internacionais desses tempos. E nós que vivemos esses anos estamos rapidamente a desaparecer. Os que viveram todo o Estado Novo na idade adulta teriam hoje cem anos. Todavia, ainda existe gente como eu que passou uma grande parte dos anos adultos a viver o salazarismo. Portanto, os jovens (pessoas com menos de sessenta anos!), se estiverem realmente interessados na história de Portugal deviam nos ouvir com alguma atenção.

1º A miséria em Portugal nos anos trinta, quarenta e cinquenta do século passado era realmente atróz. Contudo, era essa a situação por toda a Europa rural salvo nos países nórdicos. Em Portugal começou a abrandar quando a emigração e as guerras coloniais diminuiram drasticamente a mão de obra e, pela primeira vez na história do país, os empresários da cidade e dos campos tiveram sérios incentivos para investir na mecanização. O surto de produtividade nos anos sessenta foi a consequência. Não foi por nenhuma decisão do governo que isto aconteceu, mas pela conjuntura.

2º Nos anos trinta, e mais tarde, o grande obstáculo ao progresso económico era a falta de mercado interno. Salazar ou qualquer outro governante não podia, nas condições da altura, fazer muito para melhorar a situação. Certamente ele fez mais do que fizeram os sábios doutores da República, que levaram o país à bancarrota e uma situação em que nas chancelarias da Europa a palavra portugaisé significava desordem, atrazo, bagunça e corrupção. Salazar proseguiu uma política económica intensamente proteccionista, totalmente contrária a todos os princípios liberais. Na situação de crise económica mundial, a autarcia praticada por Salazar, protegeu o país de maior parte dos efeitos da Grande Depressão. Havia ordem mas a pobreza pouco melhorou. Bem podiam pregar os raros comunistas. Os soviéticos tinham a solução na colectivização dos campos. O que não explicavam é que o resultado foi a grande fome e a morte de milhões de camponeses russos.

3º Quanto à questão da ameaça nazi sobre a Península. É muito engraçado à volta da mesa do café especular sobre o “might-have-been” da história. Os ingleses também o fazem. (Se os alemães tivessem invadido...?) O que interessa é o que realmente aconteceu e não o que teriam sido as intenções de determinada figura em determinadas circunstâncias. O que de facto aconteceu nos primeiros anos da Segunda Guerra Mundial foi que em Portugal os governantes e as pessoas informadas receiavam, com ou sem razão, uma invasão hitleriana. Os interessados podem consultar o grande livro branco em onze volumes Dez Anos de Política Externa (1930-47) A Nação Portuguesa e a Segunda Guerra Mundial para ler os documentos relevantes e a interessantíssima correspondência entre os nossos governantes, os embaixadores e representantes de Portugal no estrangeiro e governantes de outros países. Também a biografia de Salazar por Franco Nogueira traz muitos elementos valiosos. Independentmente disso eu própria posso testemunhar dos receios da época. O Consul Geral de Portugal em Londres apresentou-se ao Governo britânico oferecendo-se para chefiar um governo português em exílio caso Portugal fosse ocupado. O meu pai que estava no Consulado de Liverpool, despachou-me, a minha mãe, e o meu irmão para os Estados Unidos, preferindo arriscar as nossas vidas na perigosa travessia por barco do Atlântico a enviar-nos para Portugal para escapar aos bombardeamentos. Receava que num Portugal ocupado a minha mãe como britànica e nós nascidos na Inglaterra tivessemos dissabores com o ocupante.

Portanto tentar tirar o mérito da política de neutralidade de Salazar, dizendo post factum que Hitler nunca teve intenções de invadir a península, não tem cabimento. Um homem de estado não pode brincar às adivinhas.

Portugueses da antiga oposição e especialmente os comunistas, cujo ódio visceral a Salazar ultrapassa os limites de racionalidade, parecem incapazes de examinar o fenómeno do Salazarismo com calma. Sobretudo o que impressiona é que foram até hoje incapazes de oferecer uma alternativa credível ao Estado Novo. O PCP era fraco nos anos trinta mas, sem a repressão. tinha crescido e tido a possibilidade de trazer a guerra civil aquém fronteira. Era isso que Salazar em parceria com Franco evitou. Até as sublevações nas colónias Salazar sempre seguiu uma política de prevenção. Era suposto ser autor da famigerada frase ”um safanão a tempo!” Toda a história do comunismo ensina que a desordem e o desgoverno sempre favorecem os comunistas, o que veio a confirmar-se nos tempos que se seguiram ao 25 de Abril.

É aquí que reside o paradoxo do liberalismo. É basicamente o paradoxo da democracia. Nos dias de hoje é o paradoxo do Iraq e de todos os Estados falhados.
Portugal no 28 de Maio de 1926 era um Estado falhado. Salazar, ditador, conseguiu retirar o país das ruinas. Democracia e liberalismo só florescem na prosperidade.
É por essa razão que os extremistas da esquerda e da direita regozijam com o colapso económico. Hoje a sua amargura e malevolência devem-se ao facto que não foram eles que trouxeram tempos mais prósperos para Portugal.

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