terça-feira, 10 de abril de 2007

A causa do liberalismo em Portugal

Não sei bem como satisfazer a curiosidade do RicardoGF. Creio que minha visão sobre o MLS (que seria injusto e impróprio classificar como exclusivamente negativa) é suficientemente clara para não suscitar equívocos. Isto dito, não me parece que tenha feito um número particularmente elevado de posts a "atacar" o MLS.

Não obstante as claras divergências de princípios, olho com alguma simpatia para o movimento e, em particular, para os esforços do Miguel Duarte a quem atribuo o mérito de se esforçar, na maioria das circunstâncias, por ser intelectualmente honesto e por defender energicamente as suas convicções. Vejo igualmente com bons olhos a possibilidade de que algumas pessoas iludidas pelo discurso perigoso e irresponsável da extrema-esquerda se aproximem das ideias do MLS, abandonando o extremismo e o anti-capitalismo primário que caracterizam organizações como o Bloco de Esquerda. Isto dito, nunca escondi que, na minha perspectiva, o MLS está demasiado próximo da social democracia para que possa constituir uma alternativa liberal interessante, mas esse facto está longe de me levar a colocar o MLS no topo das minhas preocupações.

Quanto a Pedro Arroja não vejo por que razão deveria eu ter de comentar tudo o que se escreve no Blasfémias. Concordo com grande parte do que escrevem os blasfemos e discordo em algumas ocasiões relativamente aos mais variados assuntos (como, aliás, acontece por vezes até com textos de outros insurgentes). Quando sinto alguma motivação especial para exprimir a minha divergência (e, claro, tenho disponibilidade para o efeito) faço-o, mas não é propriamente uma actividade que considere prioritária, ainda que por vezes discorde profundamente de alguns textos.

Não poderei dizer (talvez em parte por uma questão de idade), como o meu amigo CAA, que Pedro Arroja tenha tido um papel decisivo na minha "conversão" ao liberalismo, ou que tenha sido por causa dos artigos de Pedro Arroja que fui compelido a ler Hayek pela primeira vez (a minha "conversão" deu-se pela leitura do Human Action de Ludwig von Mises, e foi a partir dessa base inicial que o meu liberalismo se foi consolidando e, em alguns aspectos, alterando ao longo do tempo), mas mantenho ainda assim uma profunda estima e respeito intelectual por Pedro Arroja. Uma estima e respeito intelectual que se mantêm mesmo quando por vezes discordo (com mais ou menos intensidade) do que Pedro Arroja escreve no Blasfémias.

Relativamente ao papel de Pedro Arroja na divulgação do liberalismo em Portugal, acho que os seus muitos artigos de há mais de uma década na imprensa (em especial no Jornal de Notícias e no Diário de Notícias) foram muito importantes na época para dar a conhecer autores e ideias de que quase ninguém falava (veja-se este exemplo, em boa hora divulgado pelo MLS). Creio que, no período que se seguiu ao 25 de Abril de 1974, os quatro intelectuais que mais contribuíram (ainda que de formas e com especificidades bem diferentes) para a divulgação do liberalismo clássico foram Orlando Vitorino, José Manuel Moreira, João Carlos Espada e Pedro Arroja. Por razões que creio serão (mais) claras para quem tenha lido este livro ou este outro e/ou conheça o meu apreço pela Escola Austríaca, sinto-me mais próximo da linha de pensamento de José Manuel Moreira, mas considero que os quatro deram notáveis contribuições, cada um à sua maneira, para a causa do liberalismo em Portugal.

Concluo subscrevendo a opinião do Ricardo sobre a importância d'O Insurgente e do Blasfémias como veículo de disseminação dos princípios liberais, ainda que acrescentasse que considero igualmente importantes (no seu conjunto) para o mesmo fim a vasta rede de blogues liberais de menor audiência que constituem uma parte substancial da blogosfera política portuguesa.

Texto anteriormente publicado n'O Insurgente.

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