quinta-feira, 11 de setembro de 2003

Uma Batalha Que Diz Respeito a Todos

Diz José Manuel Fernandes.

Bem, isso diz ele. Os US são perfeitamente capazes de se defender, mal grado a incompetência dos vários serviços públicos de segurança americanos e a mais que lamentável intromissão do governo federal nas condições de segurança privadas das companhias aéreas (proibição de porte de armas pelo pessoal de bordo), que por si só, talvez tivessem impedido o 11/9. E não foram só as vítimas directas do 11/9 que temos de evocar hoje, mas também o que já será o triplo de vítimas civis na sequência da procura de justiça e, dizem, segurança adicional. Mas estamos com dúvidas, dúvidas crescentes.

Por outro lado, o Iraque em nada nos diz respeito. Não constituindo perigo militar para os seus vizinhos, muito menos constituía para Portugal, a Europa ou a NATO. Se outros tomam a iniciativa de acções militares com, esperamos nós, o seu melhor julgamento, os custos e perigos de tal acção não têm nada que nos afectar, por muito que a nossa preferência de princípio seja indiscutível.

Ainda mais, se essa iniciativa, em tudo parece agravar mais as condições objectivas de fomentação do extremismo, em tudo, se aconselha, a que essa batalha em nada nos diga respeito.

O valor das "alianças" entre Estados, que em nada, pelo menos para um Liberal, se pode comparar a um contrato entre partes, deve ser evocado apenas, em situações de extrema gravidade, onde a integridade territorial está ameaçada. A Nato funcionou como organização de defesa. Se tivesse sido ofensiva ou motivada por princípios moralistas - do tipo que recusaria a participação de Salazar - talvez já a civilização tivesse perecido (na altura da guerra fria, alguns NeoCons advogaram o confronto directo com a União Soviética), e hoje sabemos que tal não era necessário. Time was on our side.

Infelizmente, desde o Kosovo, a Nato deixou de ser defensiva e actuou baseada em factos disputados, primeiro eram 100 000 vitimas de genocídio, chegou a evocarem-se 500 000, agora, não passam de uns milhares, talvez os mesmos milhares quer foram necessários para “libertar” o Afeganistão e o Iraque, sendo que no caso do Kosovo tratava-se precisamente de impedir os muçulmanos ajudados pela Albânia (também se sabe, hoje, com ligações a Bin Laden) de conquistarem um território que sempre foi da Sérvia, por sinal Cristã Ortodoxa. O que leva a erros de julgamento? A ideologia, a ideologia para fazer um qualquer bem a terceiros. E o uso da força militar ao serviço de ideólogos que querem fazer um qualquer bem a terceiros é uma realidade perigosa. E esta realidade começou com a Revolução Francesa e Napoleão.

Evocar "alianças" para a prossecução de actos militares onde a legitima defesa não pode ser evocada é coisa própria de políticos que fazem escolhas pelos outros e cujos custos caiem nos outros.

Por outro lado, a evocação de Saddam como tirano, fica um pouco mal, quando nos lembramos do Chile e Pinochet. Este último acabou com a democracia no Chile e provavelmente evitou um péssimo caminho que seguia Allende, matando pelo caminho alguns milhares de pessoas. Quem é que sabe o que foi ou seria melhor ou não para o Chile? Ninguém sabe. No meu caso pessoal, se fosse chileno, Pinochet teria sido a realidade possível. No Iraque de Saddam, apesar da sua repressão generalizada, os seus actos mais publicitados e cuja extensão é disputada, foram contra separatismos. E que se saiba, quer Saddam quer Pinochet, foram ambos ajudados. Quero com isto dizer que podemos ter posições de princípio sobre isto ou aquilo, mas quem sabe ou tem a responsabilidade de saber sobre o que está disposto a fazer contra ou a favor de um qualquer tirano é a própria população.

E agora, perante o facto consumado, dizem, que se não ajudarmos o Iraque cai no caos, na guerra civil, etc. Bem, isso não me diz rigorosamente nenhum respeito. No entanto, calculo que se for o caso, o Iraque precisará de uma espécie de Pinochet, muito pouco democrático, para assegurar a integridade do Estado Iraquiano (não que se este fosse posto em causa isso me preocupasse minimamente, pelo contrário) e evitar um guerra civil prolongada entre Curdos, Shiitas, Sunitas, Turcomanos, etc.

Mas para isso, lembro-me agora, já tinham o Saddam. E ele era um problema dos Iraquianos. Mas com o advento do proto governo mundial, seja na sua versão ONU ou Pax Americana, tudo diz respeito a todos. É a globalização política.

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