sexta-feira, 17 de junho de 2005
JPP e o nojo da politica
No Abrupto, a propósito da tendência para aniquilar a política com o recurso falseador a "pareceres técnicos" dificilmente neutros, José Pacheco Pereira atribui esse vício de nojo e repúdio da política pura a uma herança do salazarismo. Sejamos justos. Quem conhece a nossa história oitocentista, sabe que esse repúdio da política, esse nojo sobranceiro que a quer substituir por uma "honestidade" puritana e uma incolor competência "técnica" foi uma causa e não uma consequência do salazarismo: Salazar pôde "reinar" num país no qual essa cultura já estava instalada. Essa cultura do nojo à política é filha do radicalismo anti-cartista do século XIX e da sua metamorfose no republicanismo do último quartel desse século: é aí que encontramos o puritanismo "apolítico" e as "soluções científicas" a irromper em Portugal, ambos bem temperados, aliás, com uma boa dose de histeria nacionalista. Este foi o caldo (nem de esquerda nem de direita, desenganem-se) que abriu o caminho a Salazar ou, se não tivesse sido ele, a alguém muito parecido.
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