quarta-feira, 1 de junho de 2005

O que eu vejo no defice...

Medina Carreira mostrou recentemente, com números que ninguém pode negar, que o Estado português estará insolvente dentro de meia dúzia de anos. O crescimento da riqueza tem sido muitíssimo inferior ao crescimento da despesa do Estado e esse desnível é assustador nos últimos dez anos. E é neste quadro que estamos hoje.

A famosa “obsessão do défice” da dra. Manuela Ferreira Leite deveria ser a obsessão de todos aqueles que prezam o seu periclitante bem estar e o dos seus filhos. Tradicionalmente, as “curas” para este mal são três (a quarta e mais racional, a diminuição da despesa, nunca foi considerada por nenhum Estado): o agravamento da carga fiscal, o endividamento e a impressão de dinheiro.

A primeira “cura”, que, como as outras duas, é, na verdade, um paliativo, está sempre a ser administrada; ainda agora o IVA, que há dois anos pulara 2% vai pular mais 2%. Graças a estes “pulos”, entre impostos directos e indirectos, os singulares e as empresas já entregam cerca de metade do que produzem ao Estado (a revolução francesa fez-se por muito menos!). Medina Carreira também disse que, na situação actual, a capacidade dos contribuintes portugueses está praticamente esgotada: porque os Portugueses, em média, têm um rendimento baixo, porque o crescimento de riqueza está estagnado e os muito ricos são poucos, o Estado já tem pouco para onde expandir a sua voragem espoliadora sem começar a criar batalhões de novos pobres (e desempregados da iniciativa privada).

No que respeita ao endividamento, e porque a dívida pública é gigantesca e ainda fresca e o défice é o que sabemos, não se vê que existam governos ou bancos a querer emprestar muito mais dinheiro cujos juros é agora quase certo que nunca receberão. (Pequeno parênteses: claro que já nem vale a pena armarmo-nos em botas de elástico e reprovarmos que se considere sequer a possibilidade de contrair ainda mais empréstimos!)

Quanto à impressão de dinheiro, truque sujo que os políticos portugueses delegaram no Banco Central Europeu, Portugal tem a sua quota parte de aumento da emissão fuduciária, mas já não a controla a seu bel-prazer como entre 1891 e 2001 fazia com o Banco de Portugal. Daí que muita gente, em Portugal e por essa Europa fora, já diga que é necessário pôr o Banco Central Europeu (BCE) a funcionar com critérios políticos, isto é, a aumentar a emissão de dinheiro a pedido dos políticos que não conseguem controlar o crescimento das despesas públicas. Como há países na União Europeia com situações similares à nossa, a grande esperança para os admiradores da “integração europeia” é que se force o BCE a aumentar a emissão monetária, provocando uma salvífica onda inflacionista de dimensão continental. Quem sabe até se, para salvar o “estado social”, não se consegue uma hiper-inflação verdadeiramente europeia, varrendo por igual toda a Europa azul e das estrelinhas, do Atlântico aos Urais!

(Delírio? Não há já quem diga que o euro está “sobrevalorizado” em 60%?)

O grande medo é se o ciclo português de desagregação financeira do “estado social” se antecipa ao europeu. Como se aguenta até vir a inflação europeia “salvífica”? Até por isto, mesmo neste cenário dantesco, os políticos portugueses deviam ter juízo, muito juízo, e fazer coisas difíceis.

Mas, sincronizados ou não com a Europa, o que nos espera é um regresso aos loucos anos Vinte. Literalmente, LOUCOS…

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