sexta-feira, 17 de junho de 2005

Manuela Ferreira Leite

Na entrevista de ontem à noite na RTP1, Manuela Ferreira Leite desfez a farsa do “défice de 6,8%”, que não é um número relativo a contas já fechadas (de 2004), mas uma projecção relativa ao fim de 2005, e que, como estimativa, pressupõe já opções que não foram suas e critérios contabilísticos questionáveis. Entre as opções que não são suas estão os aumentos já prometidos dos salários da função pública (que ela congelara) e a estratégia de fazer entrar um funcionário público por cada dois que se reformasse (ela estabelecera que, salvo raras excepções, não entrasse nenhum). Entre os critérios contabilísticos, a não inclusão das receitas extraordinárias permitiu engordar o défice para criar alarido político.

A ex-ministra mostrou depois que essas contas que construíram o “défice de 6,8%” decorrem já de uma estratégia de “saneamento” completamente inconsequente, que repousa totalmente nas receitas (e no seu esperado aumento) e não na real contenção das despesas. Claro que, como a ex-ministra das finanças comentou, isto não augura nada de bom quanto à concretização do esperado equilíbrio financeiro do Estado.

Manuela Ferreira Leite atacou depois o aumento do IVA (sintomático de uma política toda virada para as receitas), que afectará decisivamente a nossa competitividade em relação à Espanha (e acrescento eu: levará a uma quebra do consumo, anulando o esperado crescimento das receitas e pressionando o aumento do desemprego) e explicou por que razão o agravamento dos impostos sobre o álcool e o tabaco não farão aumentar as receitas e, pelo contrário, estimularão a procura a abastecer-se fora do país; explicou ainda que o novo governo meramente adiou as portagens nas SCUT porque não há recursos para manter tal decisão por muito mais tempo.

Finalmente, pôde rir-se daqueles que tiveram de reconhecer que a sua política financeira não era afinal tão alarmista e “obsessiva” como diziam os que agora foram chamados a governar. O que é pena no meio de tudo isto? Que Manuela Ferreira Leite não tenha sido chamada a suceder a Durão Barroso. O país não teria apenas a ministra das finanças de que precisa. Teria a primeira-ministra de que precisa.

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