domingo, 26 de outubro de 2008

Questões colocadas: Inflação/Deflação quantitativa e Inflação/Deflação de Preços

"1. Ouvem-se falar de bilões de dinheiro injectado nas "economias" um pouco por todo o globo. Por outro lado, observam-se os preços das commodities a baixarem bastante (ouro, oil, etc.).

Afinal, onde está o dinheiro? Se o mercado foi inundado com dinheiro, onde está ele?

A 2ª pergunta, já a tens abordado aqui com mais ou menos frequência. Porque é que para o sistema financeiro actual a deflação é tida como pior do que a inflação?

Se percebi as tuas explicações anteriores, a deflação é o resultado do aumento da eficiência, da produtividade ou da redução dos custos com matérias primas, etc. Portanto, até podia ser uma coisa boa... Mas, aparentemente, para o sistema financeiro actual a deflação é uma coisa má. Não sei se compreendo porquê... Será porque no sistema actual a deflação implica que o dinheiro seja destruído?"

A responder.

1. As injecções de dinheiro materializam-se em concessão de crédito pelos Bancos Centrais ao sistema bancário, aumentando assim o nível de reservas dos Bancos relativamente aos depósitos e assim evitando falêncis bancárias, pelo menos no curto prazo. A operação tem os seguintes efeitos nos balanços

BANCO CENTRAL
Activo: Crédito aos Bancos por crédito das suas contas de reservas
Passivo: Emissão de novas quantidades de moeda

BANCOS
Activo: Conta de Reservas no Banco Central aumentada (mais moeda)
Passivo: Empréstimo contraido no Banco Central

Assim, esta nova quantidade de moeda destina-se pelo menos no curto prazo a substituir financiamentos dos Bancos que não são renovados (e uma das razões é o facto de terem deixado de emprestar moeda uns aos outros) e até a permitir que os Bancos possam enfrentar levantamentos de depósitos.

Uma crise bancária surge quando estes de forma sistémica deixam de ter moeda depositada no Banco Central em quantidade suficiente para cumprir o rácio de reservas para depósitos pressionados simultâneamente por incumprimentos dos seus próprios credores (e que assim não entregam moeda ao banco) assim como de depositantes que levantam moeda.

E quando assim é, os Bancos deixam também de conceder novo crédito a terceiros, assim como passam até a deixar de renovar linha de crédito.

Assim, as injecções destinam-se a evitar a falência e corridas aos bancos, o que a acontecer têm o efeito de destruir moeda pelo desaparecimento de depósitos (deflação monetária) o que estabeleceria um sem número de falências em cadeia, no meio de descida de preços dado o efeito de recessão e em especial da diminuição da quantidade de moeda em circulação.

Enquanto o único efeito fôr o do reforço da conta de reservas, isso em si não é inflacionário porque a quantidade de moeda determinada pela soma de todos os depósitos (e notas/moeda) existentes ainda não se alterou.

Num segundo momento, as injecções de moeda destinam-se a permitir que os Bancos possam considerar voltar a aumentar o stock de crédito por criação monetária (inflação quantitativa).

Aí, os Bancos vão efectivamente criar moeda/depósitos ao conceder novo crédito, possibilitado pela conta de reservas agota aumentada. É de notar que embora nos livros de economia se diga que os Bancos por cada depósito têm de colocar em reservas por exemplo 2%, como se esse fosse o ciclo, na verdade os Bancos Centrais primeiro criam as novas reservas e depois os Bancos criam novos depósitos out-of-thin-air permitido pelas novas reservas no sistema bancário (o que acontece sempre que os Bancos Centrais por exemplo, compra dívida pública ou financiam via operações repo os activos dos bancos.

Concluindo quanto a este ponto, numa primeira fase as injecções não aumentam a quantidade de moeda medida pela soma de depósitos (e notas/moedas) em circulação, mas a prazo na medida em que possibilitarem o crescimento do crédito (nem que seja com a compra de dívida pública) isso materializa a inflação monetária o que poderá desencadear a inflação de preços.

(a seguir, a resposta à segunda questão)

Sem comentários:

Enviar um comentário