segunda-feira, 14 de agosto de 2006

Causa Liberal

Causa Liberal
Antisemitismo e islamófobia: confusões semânticas e lógicas

Há quem tenta procurar equivalência moral entre antisemitismo e islamófobia. No entanto só quem não entende o significado dos dois conceitos pode ousar julgá-los pelos mesmos critérios.

Antisemitismo: É o nome que se dá ao preconceito racial contra pessoas de origém semita. Os Nazis, por exemplo, não estavam interessados na religião dos judeus além de esta ser um sinal conveniente para identificar algumas pessoas dessa raça. Os nazis eram confessadamente pagãos e uma das cantigas mais populares da juventude hitleriana referia a Jesus como “o porco judeu”. Os judeus não-crentes ou convertidos ao cristianismo eram tão perseguidos como os judeus religiosos. A base da perseguição residia nas teorias racistas dos nazis. Estes acreditavam em toda uma hierarquia de raças com os arianos no topo e os latinos, os eslavos, os negros e os ciganos (por essa ordem) na base da piramide. Uma piramide bem flexivel, aliás, onde as conveniências políticas permitiam estranhas mudanças de classificação.

Os filólogos classificam um grupo de línguas do médio oriente como semiticas (hebraico, aramaico, árabe, etc.). Tanto os árabes como os judeus são, por causa das suas línguas considerados povos sémitas. Todavia, o que se chama de “anti-semitismo” é hoje usado para significar aversão aos judeus, não aos árabes, e é portanto uma atitude racista.

Islamófobia: Os dicionários de português definem a palavra “fobia” como medo sem razão de alguma coisa. Em inglês “phobia” é definido como aversão ou medo irracional de qualquer coisa. “Islamofobia” não se aplica à raça. Ser-se anti-Árabe ou anti-iraniano, isso sim, seria uma atitude racista. Outra coisa é ser-se contra o Islão que não é uma raça, mas sim uma religião cujos fieis podem-se encontrar em todas as raças. Uma pessoa pode perfeitamente ser contra o islão no seu todo sem ser racista. Tal como podemos ser contra o calvinismo, contra o budismo, contra o catolicismo etc Ser-se a favor da tolerância religiosa e o estado laico não implica aprovação e nada obriga um liberal a ter opiniões favoráveis sobre alguma ou todas as religiões.

Agora, como o fundamentalismo islámico insiste na aceitação acrítica e obrigatória de uma série de crenças e práticas repugnantes e contrárias à morale humanista quem as repudia não pode ser acusado de sentir ou expressar uma fobia. Como já foi dito uma fobia é por definição irracional. Se alguem considerar que sentir repugnância, aversão ou medo dos fundamentalistas islámicos seja uma atitude irracional, então essa pessoa, forçosamente acha uma de duas coisas:

1. Que é falso que os fundamentalistas têm práticas fascistas e tudo em nome da religião: que cortam cabeças, mãos e outros membros como castigo; que sujeitam a estas punições homosexuais, mulheres adúlteras ou violadas e também apóstatas; que mandam bombistas suicidas para assassinar civis; que mantêm as mulheres num estado de extrema inferioridade.

2. A segunda hipótese é que quem lança a acusação de islamófobia conhece e aprova estas práticas dos fundamentalistas. Portanto podemos concluir que essa pessoa é um simpatizante do islamo-fascismo.

3. Há, porém, uma terceira hipótese. Quem acusa outro de islamófobia pode rejeitar os dois primeiros pontos e refugiar-se no relativismo cultural. Ele pode dizer que reconhece que os fundamentalistas islámicos têm práticas repugnantes para nós europeus, mas que isso é lá com eles: é a sua cultura. Nós não temos nada com o assunto. Preocupar-se com o assunto é adoptar uma atitude islamofóbica., É assim que muita gente foje aos juizo morais e às responsabilidades. Chama-se a isto niilismo. E quando se torna evidente que, além da responsabilidade moral, a questão tem muito a ver connosco porque somos também alvos, então a recusa a tomar posição tem outro nome: chama-se simplesmente cobardia.

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