(Adenda: com correcções menores...)
1. Esta pergunta só tem sentido se de facto a empresa tem alguma possibilidade de ter lucro num ambiente de mercado livre (sem protecções e incentivos estatais, etc). Só tem lucro efectivo quem consegue vender um produto ou serviço que os consumidores de livre vontade estão dispostos a pagar um preço acima do seu custo. (a aferição pelo consumidores do valor de algo não se relaciona com o custo, é uma acção inteiramente subjectiva).
2. A noção de lucro deve conter já uma noção (na gíria comum) de “lucro normal” correspondente á taxa de juro “normal”.
3. Quanto ao lucro normal (equivalente a uma "taxa de juro normal"): se nem isso o empresário pretender, o efeito dessa componente corresponde ao mesmo de alguém que está disposto a conceder crédito sem cobrar qualquer taxa de juro apesar de existirem muitas pessoas que estariam dispostas voluntáriamente a pagar algum juro (na verdade existiria procura até à tal "taxa de juro normal") por esse crédito.
4. Se o empresário incorpora essa "taxa de juro normal" nos seus cálculos, mas ainda assim o empresário embora tendo a capacidade de ganhar "lucros acima do normal" mas não o faz, isso quer dizer que:
Se recusa a vender mais produtos que em termos marginais começariam a dar-lhe lucro, vendendo apenas os suficientes para pagar os custos. Tinha assim de se recusar a vender.
Ou teria de praticar um preço ainda mais baixo que os consumidores de livre vontade estariam dispostos a comprar, o que faz aumentar em muito a procura, e assim seria obrigado a adequar a produção.
Mas o paradoxo é que é esse aumento de produção também faz aumentar o preço dos recursos usados (salários, preço das matérias) .
Para complicar, teríamos de saber ou decidir se o empresário deve incorrer em custos adicionais em desenvolvimento de melhorias e investigação e transmitir esse custo adicional no preço do actual produto para pelo menos não incorrer em prejuízos, ao mesmo tempo que não sabe se o produto futuro irá ter procura.
Adicionalmente, são os lucros obtidos na primeira fase de grande crescimento de um produto de sucesso que permitem acumular capital próprio para o investimento em mais produção. Mas se o empresário se recusa a obter lucros, deixa de obter capital próprio para esse financiamento.
5. Mas estas funções de sensibilidade de preço e procura, assim como as dos custos de produção (perante custos não estáticos dos factores) são largamente desconhecidas ou no mínimo não estáticas.
6. E a falta de sentido desta questão é que:
Se um empresário deseja mesmo não ter lucro na sua actividade só tem de promover que o mercado seja tão livre quanto possível, porque todas as tentativas de obter lucro estão condenadas a prazo, ao mesmo tempo, que quando deixa de os obter é porque satisfez toda a quantidade possível de procura ao mais baixo preço possível (isto é, sem ter prejuizo).
7. Assim, a única forma objectiva e segura do empresário se recusar a ter lucro mesmo tendo essa possibilidade será então limitar a produção.
Mas aí outro empresário aparece para produzir o deficit de procura, passando este então a obter os tais lucros que vão financiar e incentivar ainda mais investimento em produção adicional, e baixando o preço (e aumentado os custos) até todo o "lucro acima do normal" desaparecer.
Adenda:
Mesmo que o empresário não pretenda sequer a taxa de juro/juro normal, isso equivale a ter que descer o preço ainda mais, aumentado a procura, obrigando assim a limitar ainda mais a produção/vendas relativamente à procura.
Na verdade conclui-se que um empresário que queira não ter lucros embroa o mercado os queira conceder (pensar em produtos inovadores como informática, etc) tem de restringir a produção e venda do produto apesar de ter procura. Curiosamente, aquilo de que acusam um monopolista.
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