sexta-feira, 1 de agosto de 2003

Re: Grande Guerra

Portanto, vamos lá ver.

Uma Guerra Mundial que só se deu por causa do sistema de alianças, em que os "aliados" apoiaram o "Estado terrorista" da Sérvia, em que foi precisamente o abandono do Presidente Woodrow Wilson da tradição isolacionista americana (contra as promessa feitas na sua eleição) que permitiu que a França e outros, impusessem condições impossíveis (por exemplo, na altura ouviu-se um ministro desesperado a declarar "a Áustria desistiu de viver"), que lançou o ódio e ressentimento na Europa Central (o bloqueio alimentar, os territórios, Versailles, a criação de novos países, etc) , que teve na origem da queda do Czar , das monarquias germânicas, da Itália, do Império Áustro-Hungaro, do Império Otomano (cujo domínio no Médio Oriente foi substituído pelo Império Britânico e Francês. Os ingleses, por exemplo, tiveram que combater as revoltas das tribos no Iraque, recorrendo ao bombardeamento de civis e tendo até Churchill recomendado por escrito o uso de gás – WMD??), que com isso tivemos o Comunismo, Nazismo e Fascismo, e tudo isso, coisa pouca, podia ter sido resolvido se os EUA se tivessem instalado Imperialmente na Europa Central a seguir à Grande Guerra?!!???

Mas como, fazendo da Alemanha e Aústria o seu pequeno grande Iraque actual ( a coisa não está a correr muito bem, como nenhum programa social poderá alguma vez correr)? Pois, o problema é que sempre a América foi isolacionista. Foram sempre os seus Presidentes de Esquerda a ir contra o seu próprio Ethos (Wilson, Roosevelt, Kennedy e com Reagan já os ex-trotskistas estavam a fazer com que o Conservadorismo aceitasse o inaceitável - Roosevelt, que tratava Estaline como "Uncle Joe" e o New Deal). Já o Presidente Eisenower (conservador) cunhava o termo e alertava sobre o crescimento do complexo-militar-industrial.

Portanto, muito do pró-americanismo actual é na verdade, um neo-pró-americanismo, porque na verdade, com a América "profunda" se calhar, pouco se identificam. Vamos ouvir John Quincy Adams em 1821, enquanto a Grécia lutava pela independência contra os Turcos:

"Wherever the standard of freedom and Independence has been or shall be
unfurled, there will her heart, her benedictions and her prayers be. But she
goes not abroad, in search of monsters to destroy
.

She is the well-wisher to the freedom and independence of all. She is the
champion and vindicator only of her own
. She will commend the general cause
by the countenance of her voice, and the benignant sympathy of her example.

She well knows that by once enlisting under other banners than her own, were
they even the banners of foreign independence, she would involve herself
beyond the power of extrication, in all the wars of interest and intrigue,
of individual avarice, envy, and ambition, which assume the colors and usurp
the standard of freedom
.

The fundamental maxims of her policy would insensibly change from liberty to
force.... She might become the dictatress of the world. She would be no
longer the ruler of her own spirit.... [America’s] glory is not dominion,
but liberty."

Mas vou citar novamente Churchill, tirado deste post, aqui.

Citado num curioso artigo da Reason, "Teddy Roosevelt’s Hidden Legacy, How an "imperialist" president’s record makes the case for military restraint.":

“Winston Churchill suggested as much in 1936:

"America should have minded her own business and stayed out of the World
War. If you hadn’t entered the war the Allies would have made peace with
Germany in the spring of 1917. Had we made peace then there would have been
no collapse in Russia followed by Communism, no breakdown in Italy followed
by Fascism, and Germany would not have signed the Versailles Treaty, which
has enthroned Nazism in Germany. If America had stayed out of the war, all
of these ‘isms’ wouldn’t today be sweeping the continent and breaking down
parliamentary government, and if England had made peace early in 1917, it
would have saved over one million British, French, American and other
lives."

Um pouco delirante, portanto, propor que o progressita Woodrow Wilson, nos saudáveis valores da época, sequer pensasse como possível a ocupação militar da Europa Central? Nem as populações de uns nem de outros, o teriam aceitado (da mesma forma que o Congresso Americano recusou o tratado de Versailles e a Liga das Nacoes). Para o aceitarem no fim da Segunda Grande Guerra foi necessário a destruição total: bombardeamentos sobre as vilas e cidades alemães – Dresden? – incluindo aos alemães em fuga do exército vermelho e duas bombas atómicas – WMD – sobre civis japoneses duma Nação derrotada. E dizer que a Alemanha e Japão foram "esclarecidos" e "ensinados a viver" pela ocupação americana, enfim, cada um constrói os seus próprios mitos. Correcto será dizer que apesar de tudo, é a tradição americana da "Republic not an Empire" que a faz ter muito pouco jeito para colonizar o que quer que seja - isso sabem os Europeus fazer - e dadas as condições, permitiram aos Alemães e Japoneses, reconstruir o que tinha ficado em cinzas recuperarando a sua alma.

Mesmo na Segunda Grande Guerra, caminhos alternativos podiam ter sido seguidos. Não que haja qualquer certeza que assim pudessem ocorrer, mas a afirmação que foi o isolacionismo que teve na origem da WWII é errada. Em primeira análise, repito, foi a política das alianças e a atitude "hawkish e tough" que fez o desastre da primeira, e esta lançou os germes da segunda. E nesta, por exemplo, os "aliados" podiam ter recebido em massa como imigrantes os Judeus nos anos 30 (uma das dementes propostas nazis na altura) e Hitler nessa demência, quando invadiu a Polónia, em vez da declaração imediata de Guerra pela França (hoje, esquecem-se facilmente da atitude corajosa dos Franceses – as aliados históricos dos americanos contra o Império Britânico, mesmo ao lado da poderosa máquina de guerra nazi, tendo morrido mais de 100 000 Franceses em combate no primeiro mês de guerra) e Inglaterra, podiam estas ter-se concentrado na sua defesa e talvez Hitler não se tivesse virado a Oeste, indo em vez disso, prosseguir o seu caminho contra Estaline. Talvez ambos os regimes tivessem caído numa luta fraticida. O que acabou por acontecer foi legitimar Estaline, como aliado e salvador (Churchill terá oferecido uma espada dos Cruzadas em 1943 ao “Uncle Joe” – digo isto, não esquecendo que tentou intervir na revolução soviética, mas provavelmente essa intervenção falhada só terá contribuído para fortalecer a causa do comunismo, é sempre a mesma história!) aos olhos do mundo, tendo a União Soviética arrecadado metade da Europa e no fundo, foi a Nação e regime vencedora da Segunda Grande Guerra.

e no mesmo post (peço desculpa a repetição, mas creio que vale a pena):

O que contribuiu para a participação americana? Como nos tempos actuais, a demonização do inimigo, em "The Historian Who Sold Out", Thomas Fleming, autor do "The Illusion of Victory: America in World War I (Basic Books, 2003)":

"From the start of World War I, stories of German atrocities filled British
and American newspapers. Most emanated from the German march through Belgium
to outflank French defenses in their drive on Paris.

Eyewitnesses described infantrymen spearing Belgian babies on their bayonets
as they marched along, singing war songs. Accounts of Belgian boys with
amputated hands (supposedly to prevent them from using guns) abounded. Tales
of women with amputated breasts multiplied even faster.

At the top of the atrocity hit parade were rape stories. One eyewitness
claimed the Germans dragged twenty young women out of their houses in a
captured Belgian town and stretched them on tables in the village square,
where each was violated by at least twelve "Huns" while the rest of the
division watched and cheered. At British expense, a group of Belgians toured
the United States telling these stories. President Woodrow Wilson solemnly
received them in the White House.

The Germans angrily denied these stories. So did American reporters with the
German army.

(...)

The Bryce Report was released on May 13, 1915. British propaganda
headquarters in Wellington House, near Buckingham Palace, made sure it went
to virtually every newspaper in America. The impact was stupendous, as the
headline and subheads in the New York Times make clear.

(...)

From a perspective of a hundred years, we ought to take a harsher view. The
Bryce Report has obvious connections to the British decision to maintain the
blockade of Germany for seven months after the armistice in 1918, causing
the starvation deaths of an estimated 600,000 elderly and very young
Germans. This was far and away the greatest atrocity of World war I and it
made every German man and woman hunger for revenge. By creating blind hatred
of Germany, Bryce sowed the dragons teeth of World War II."

As consequências da Segunda Grande Guerra? Para além das mortes, a infame perseguição dos Judeus, ciganos e opositores, resultou na vitória da União Soviética sobre metade da Europa Cristã e talvez o pior, na influência intelectual que produziu ilusões e sofrimento pelo resto do mundo até à queda do muro. Acabou também com o que restava do Liberalismo Clássico (já moribundo após a Grande Guerra).

Talvez o Império Austro-Húngaro antes de declarar guerra à Sérvia por causa de um atentado terrorista tivesse outras opções. Talvez a sucessão de declarações de guerra que se seguiram para cumprir o primado das alianças (com se tratassem de acordos divinos) e do temperamento “tough e hawkish” pudesse ter sido evitada.

Talvez existam sempre outras opções em casos semelhantes. Talvez a história nos possa ensinar algo. Talvez.

Sem comentários:

Enviar um comentário