sábado, 10 de julho de 2004

Um presidente digno cheio de "amigos" indignos

A reacção de partidos e personalidades de esquerda à decisão do presidente da República de nomear um novo governo no quadro da actual maioria parlamentar foi tristemente reveladora da forma como entendem a função constitucional do chefe de Estado.

Implícita nas tomadas de posição e declarações está o pressuposto de que Jorge Sampaio, sendo de esquerda, teria de favorecer os interesses imediatos da esquerda nesta sua decisão. Daí a ridícula "indignação" de personagens risíveis como Ana Gomes, Francisco Louçã e Carlos Carvalhas ou a forma como Ferro Rodrigues se demitiu, mais uma vez pessoalizando tudo e interpretando a decisão presidencial como uma derrota "pessoal"! (estas pessoas têm um ego que as impossibilita de estarem na política sem serem as grandes personagens que julgam ser, rodeadas dos amigos da juventude, que, mesmo em Belém, teriam de ser primeiro "amigalhaços" e depois aquilo para que foram eleitas). Não deixa de ser curioso pensar-se que estas mesmas pessoas achariam Sampaio um herói e um "resistente" se a decisão tivesse sido a de dissolver o Parlamento...

Digna de nota é também a forma desleal como as ponderadas justificações do presidente foram distorcidas. Sampaio sublinhou que, já que empossava um novo governo no quadro da actual legislatura para poupar o País a uma dolorosa descontinuidade política, exigia à maioria governamental uma continuidade de orientações (de contrário, de facto, a dissolução seria mais lógica); mas logo vieram os vermelhos e os rosados dizer que Sampaio estava a apoiar e a comprometer-se com a "política do governo".

Por estas e por outras, é preocupante o estado de espírito, de "cabeça perdida", que se vive na esquerda, confundindo-se os resultados das eleições europeias com o mandato dos deputados à Assembleia da República eleitos em 2002, fazendo uma chantagem emocional inaceitável sobre o presidente da República (que nas declarações de Ana Gomes chegou a ser ofensiva) e demonstrando total incapacidade de respeitar a independência da chefia de Estado e de compreender o que a Constituição dela requer.

Para quem quiser pensar pela sua cabeça, a decisão do presidente só prestigiou a Presidência da República e tornou Jorge Sampaio uma figura ainda mais respeitável e independente do que já vinha mostrando ser.

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