terça-feira, 25 de julho de 2006

Pacifismo

A quase 100 anos de distância devia ser claro que as únicas mentes lúcidas que existiam em ambos os lados da Primeira Guerra Mundial era os poucos pacifistas que existiam antes, no início, a meio e no fim (claro que Lenine conseguiu parte do seu momentum com a bandeira do paz, precisamente porque o Czar pressionado por Woodrow Wilson não chegou a um acordo com os alemães que evitasse a rotura do regime, os anos seguintes puseram bem claro que o comunismo não tem nada de pacifista - pelo contrário, mas o capitalismo e a cooperação voluntária dentro dos Direitos Naturais encerra em si alguns traços de pacifismo, lamentávelmente desviados pelo chamado capitalismo-de-Estado).

Indo até um pouco mais longe, o melhor que podia ter acontecido à civilização cristã, poupando-a de todas as consequências que sairam directamente e indirectamente dessa guerra (o advento do comunismo, fascismo, nazismo, e para um liberal...ainda a social-democracia, uma nova guerra 2 décadas mais tarde que estabeleceu a influência comunista por mais 50 anos) tinha sido mesmo a desobediência civil generalizada (e entende-se, pacífica) contra lutar no nome dos Estados e nos interesses dos Estados.

Matar e morrer em guerras entre Estados existentes ou futuros, não é equivalente a defender a vida, liberdade e propriedade. Esta é o pressuposto primeiro de qualquer tentativa de aplicar a filosofia liberal à construção de princípios morais na ordem internacional.

A luta entre monopólios territoriais da violência (definição de Estado) resume-se à disputa de acessos a status quo, por definição sempre temporais, sempre revisitados pela história. No final, para o indivíduo acaba a definir-se quem é que assume o direito a interferir de forma violenta na vida, liberdade e propriedade de cada um.

Voltando à História, a tal desobediência civil chegou mesmo a acontecer por momentos no primeiro natal do conflito com a confraternização dos soldados de ambos os lados, a meio caminho das trincheiras (mais tarde castigados por tal). Terá sido talvez o último acto ainda verdadeiramente cristão da supostamente ainda civlização cristã. Tudo o que se passou nas décadas posteriores envergonham a humanidade.

E isso incluiu passar a um novo patamar de reivindicação de intervenção por parte de todos os Estados na vida, liberdade e propriedade de todos. Não menos. Por isso "War is the health of the State".

Não sou pacifista (como disse um dia Ayn Rand, "não tenho coragem para isso"), mas a sua filosofia de não-acção parece-me cada vez mais válida.

Tolstoi foi um dos primeiros grandes pacifistas conhecidos. O comunismo nem sequer tentou usá-lo como bandeira porque um pacifista íntegro como Tolstoi, crítico da ordem social, não a pretendia mudar com uma visão ou intervenção social colectiva. Nem sequer a sua crítica ao czarismo encerrava própriamente por trás uma proposta de revolução social alternativa.

O pacifismo, consistente com o cristianismo e com o individualismo, pretende mudar/salvar a alma de cada um. Não existe nada na filosofia liberal que permita oposição de princípio.

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