O resultado do referendo francês tem de significar o fim do tratado constitucional que querem impingir aos povos europeus. Não vale a pena fazerem de conta que isto foi um tropeção e que a asneira pode prosseguir. É necessária a ratificação dos 25 estados membros e ninguém vê (espero eu) como é que a França o pode ratificar depois do que aconteceu ontem. E se a França não ratifica, nada feito.
Disseram alguns que o resultado foi a soma do medo e da demagogia. É verdade. Mas com o “sim” também foram derrotadas duas outras estratégias de medo e demagogia.
O velho papão lançado pelos federalistas segundo o qual não há alternativa ao caminho que o tratado nos quer pôr a trilhar, o que é senão uma estratégia de medo? É a reedição da tristemente famosa boutade de Helmut Kohl, “Europa oder krieg”…
Depois, a ideia de que esta Europa, centralmente organizada, pode tornar-se, por um passe de mágica de engenharia política, uma superpotência benfazeja que vai ensinar ao mundo a paz e a democracia verdadeiras, é um exercício de demagogia tão acabado como o daqueles que em França disseram “não” para protegerem um “estado social” decrépito e falido ou para fecharem as fronteiras aos “canalizadores polacos”.
Também não vale a pena os federalistas fazerem de conta que foram os trotsquistas e os lepenistas que fizeram este resultado. Seria bom para amedrontar os outros eleitorados que vão votar a seguir, mas não é verdade. Extrema-esquerda e extrema-direita não fazem em França 56% dos eleitores! Destes, uns bons 50% (metade dos votantes no referendo) votam habitualmente em partidos moderados.
O comentário, já ouvido a alguns responsáveis europeus, de que é necessário “explicar melhor” o tratado a quem acabou de o rejeitar é algo que pode ter consequências muito graves. Esperemos que a estratégia dos federalistas não seja agora essa porque isso seria brincar com o fogo e atirar achas para uma fogueira que, a partir de França, poderia levar a um incêndio de proporções inimagináveis.
Se as pessoas não “perceberam” foi provavelmente porque aquilo que lhes propunham não era realmente perceptível. Quiseram os federalistas dar um passo maior que a perna, pensando que ninguém reparava na bizarria. Saíram-se mal, como era previsível.
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