terça-feira, 20 de junho de 2006

Da moral nas relações internacionais e a história (I)

Não vou comentar possíveis enganos. Do ponto vista liberal deve ser considerado bastante provável, que duma análise cuidada da história, se descubram erros imensos cometidos por estatistas. O intervencionismo internacional lida com realidades muito mais complexas do que a realidade interna económica corrente. Mau seria descobrir que afinal o estatismo e os estatistas miraculosamente são heróis da boa acção, eficiência e eficácia, sem os habituais interesses próprios, falhas de julgamento, idealismo interesseiro. É que aparentemente, isso então tornaria provável que a sua boa acção é fundamental para guiar a felicidade dos povos.

Tenho escrito com abundância no tema que alguns podem classificar de revionismo liberal (ou se preferirem "libertarian"). Não me limito a citar outros, mas também a justificar por raciocínios próprios. Talvez seja o tempo de reunir todos os posts neste blogue sobre o assunto. Eu só fui alertado para o tema quando ao tentar procurar justificação para o crime que foi o século 20 para a civilização, percebi que na verdade a interpretação dos mesmos acontecimentos pode mudar completamente a visão dos mesmos. E a interpretação liberal tem o dever de, à partida ter uma desconfiança inata por "salvadores", idealistas que se baseiam em intervenções maciças e destruição e morte, e que resultaram em novos e impensáveis patamares de estatismo.

Ainda antes de fazer esse "apanhado" dos arquivos deste blog, vou tentar um resumo. Não que os factos não sejam conhecidos, mas parece ser necessário justificar as minhas posições.

Sempre começo por comentar que quem fala de moralismo internacional devia tentar explicar...

Que moral existiu:

* No tratado de Versailles
* Em escolher Estaline (um conhecido mass murder dos anos 30 responsável por milhões de mortos) para aliado quando este invadiu a Polónia 15 dias depois de Hilter (e tendo sido esta invasão o motivo para a declaração de guerra por parte da Inglaterra e a França, que diga-se, é esta última que mais coragem demonstrou quer na WWI quer na WWII apesar de eu considerar um erro trágico ambas as declarações de guerra) como resultado de um tratado. Compare-se com os cerca de 100 mortos de que o nazismo era culpado à altura de 39.

Que resultados foram conseguidos:

* WWI: O regime de Czar só caiu e Lenine conseguiu a sua revolução por causa da guerra e a insistência de Wilson em o que Czar não fizesse um acordo. Wilson era um idealista e ficará para a história por ter feito a guerra para tornar o "mundo mais seguro para a democracia" (como se a Alemanha e a Aústria fossem algumas nações totalitárias) e para a "guerra para acabar com todas as guerras". Maior monumento à estupidez, ingenuidade, "hubris", origem de todas as "unintended consequences" não existe na história. Depois, Wilson era anti-monárquico e especialmente contra o Império Austro-Húngaro (os lideres da contra-reforma, detentores ainda dos velhos simbolos do sacro-império-romano, ou seja, um atentado ao modernismo progressista). Conclusão, as monarquias caiem (Napoleão deve ter encarnado em Wilson) e temos o fascismo e comunismo a nascerem das cinzas, da destruição e morte, do construtivismo internacional e social.

*WWII: Estaline, por causa da boa vontade de Roosevelt e o seu sonho por uma ONU, consegue tudo aquilo que nem sequer pediu. A moral internacional celebra! O comunismo conquista uma legitimidade e força impensável antes e metade do mundo (incluindo população e intelectuais) fica refém das suas ilusões.


Préviamente à WWI, a civilização tinha conhecido um período de paz de 100 anos saídos da derrota do primeiro estatista moderno - Napoleão - e o seu militarismo-ideológico-iluminista, a propósito do qual me lembro sempre de uma citação de
Kuehnelt-Leddihn quando da sua invasão do Norte da Itália: "Vamos libertar-vos [do jugo da monarquia austriaca] quer vocês queiram ou não!".

Ou antes, existiram pequenos conflitos, limitados a exércitos de profissionais (pagos sem recorrer a moeda falsa) e mercenários, onde em regra, quem fazia a manobra mais brilhante era quase declarado vencedor sem mais danos. A população quase que assistia de perto como quem se distrai (existem relatos em Portugal disso mesmo com a primeira guerra moderna de Napoleão), os negócios não eram afectados. Os motivos eram problemas entre "primos" e a estrutura de poder na Europa era relativamente atomizada mas com uma liderança cosmopolita e educada, sejam quais forem os seus defeitos.

Quando se chega à Primeira Grande Guerra o que se passou (de forma simplificada) foi que:

* Os Sérvios (foram os seus serviços secretos que incentivaram o atentado ) matam o herdeiro do Império Austro-Húngaro. Estes fazem um ultimatum. A Rússia considera ser a sua zona de influência e declara guerra. Os alemães ajudam a Aùstria e pedem que a França não interfira mas esta começa a mobilizar. Há muito que o plano possível perante duas frentes é conhecido: derrotar a republicana França (o que faz esta como aliada duma monarquia "um pouco" absoluta como a Russa?) em tempo recorde e movimentar as tropas para Leste. O Kaiser, neto da Rainha Vitória escreve pessoalmente aos ingleses declarando não ter ambições territoriais na Bélgica, oferecendo a pagar por danos, explicando as suas intenções. Churchill e parte do gabinete não suportava a ideia de qualquer tipo de sombra ao maior Império que a história tinha conhecido, apesar dos alemães não terem praticamente colónias e no Continente, quanto muito, as suas ambições eram apenas pormenores territoriais. A Inglaterra declara guerra e todo o resto do mundo entra em guerra. Note-se que a Alemanha (ainda uma federação monárquica) tinha já eleições de voto universal para uma das Câmaras (desde 1871, portanto antes dos Ingleses o implementarem mais tarde).

A guerra encontra-se num impasse, os americanos elegem Wilson com a promessa de não intervenção (como mais tarde Roosevelt). Ambos, note-se já, eram a esquerda progressista responsável, cada um no seu tempo, pelo avanço de um socialismo desconhecido na "land of the free".

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