sexta-feira, 14 de maio de 2004

Muitos

Exultam com a sanções económicas a qualquer não democracia que deixe de ser uma não democracia conveniente, da mesma forma que exultam com tratados do comércio livre com centenas ou milhares de páginas, e "zonas de comércio livre" que apenas precedem o estabelecimento de proto-estados supranacionais, tal como nunca entendem do federalismo uma via para a descentralização interna, da mesma forma que a perda de liberdade económica das populações que sofrem as sanções em causa é somente um pormenor, da mesma forma que qualquer dano colateral de uma boa guerra e consequências posteriores são pouco relevantes quando se defende a sua ideia de libertação ou de medida justa de punição. E acreditam que assim, a liberdade (seja lá o que queiram dizer com isso) e a paz (isso sabemos o que é) descerão à terra, porque teremos uma democracia federal mundial multi-cultural hiper-diversa hiper-uniforme (com excepção de Israel - o único a ter direito a um Estado religioso-étnico independente o qual nasceu pelos mesmos métodos de que outras nações foram punidas por tentar preservar a sua integridade e identidade histórica, e por isso mesmo os primeiros servirão de exemplo a outros nacionalismos futuros – será assim como que uma consequência não prevista pelos seus maiores defensores).

O que vale é que os EUA, pelas más razões mas também pelas boas razões, nunca aceitarão perder soberania, a tal soberania que muitos federalistas para cima (e nunca para descentralizar internamente) acham que está passé. E pelas más razões e pelas boas razões, alguns poucos países europeus, como a Inglaterra, não se deixará arrastar também para a perda da sua soberania. A anarquia internacional nunca irá desaparecer porque não só os projectos de união política são desnecessários à união económica, como aqueles nunca irão conseguir apagar a história e a necessidade do homem em se identificar com os “seus”, e também porque os próprios estados nacionais vão começar a sentir as reivindicações de maior autonomia, quando não de independência, das suas partes constituintes (e como digo, até muitos se irão inspirar na admirável tenacidade israelita).

Tudo é mais complicado e mais simples do que parece.

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