segunda-feira, 17 de maio de 2004

Nobel Lie

Pacheco Pereira procura reflectir sobre os problemas da guerra em "Podem Hoje as Democracias Conduzir Uma Guerra?"

1. A maior das verdades: "A realidade é que a guerra é o reino do Diabo e solta demasiados demónios. "

2. "Infelizmente, hoje, a vontade de empurrar a guerra para um plano moral não é feita de boa-fé e é puramente instrumental. Gera-se assim dois efeitos perversos, desejados por quem o faz: um, tornar impossível a discussão, porque as invectivas morais classificam mas não explicam"

E isso aplica-se também a quem evoca o plano moral para a fazer. Lá está, classifica mas não explica.

3. "O problema dos EUA e dos seus aliados no Iraque não é militar, mas político. Militarmente, a guerra, vista no seu conjunto e tendo em conta as dificuldades objectivas, que seriam sempre esperáveis, é um sucesso. Ocupar um país do tamanho da França, defendido por um exército que tinha sido o quinto do mundo"

A derrota do exército regular é um sucesso, a ocupação não. Saddam já tinha sido derrotado pelo Irão, apesar da ajuda e cooperação "ocidental", foi também derrotado em poucos dias no Golfo I. Após 12 anos de sanções e bombardeamentos quase diários, a ameaça militar mesmo para os seus vizinhos era diminuta.

4. "É no plano político que a guerra está a ser perdida. Que as guerras se perdem politicamente é um truísmo que por si só não adianta nada à discussão. Hitler passou anos a dizer isso mesmo, acusando os políticos de uma "facada nas costas" aos militares, que no terreno estavam a vencer, ou, pelo menos, a não perder. O Vietname foi perdido para os americanos no momento em que militarmente a ofensiva do Tet tinha colocado os comunistas-nacionalistas no limite da sobrevivência militar."

Hitler vai continuar a ser falado daqui a mil anos apesar dos seus 12 anos de breve "existência", e como vemos, parece que deixou conselhos apreciados. E para reforçar a ideia do quê?

Que depois de terem morrido mais de um milhão de vietnamitas (e no Cambodja e Laos), a esta guerra que estava ganha, só faltou um esforço final...talvez quem sabe um pouco da sabedoria de Harry Truman e as suas duas bombas que mataram para salvar...ou talvez menos informação à população americana...

Mas já pensou...até podia ter conseguido uma vitória...mas depois a manutenção da ocupação e a provável necessidade de apoio a um governo ditatorial? Quantos problemas e consequências imprevistas: O que faria a China com mais essa presença militar americana na região? E quanto isso não levaria ao prolongar da linha "hard" do regime Chinês?

Outro aspecto da questão é quem, senão os Vietnamitas, é que teriam o arrojo para acabar com o regime de Phol Pot no Cambodja (que até o podiam ter feito mais cedo não fosse o prolongar do conflito no próprio Vietname, para não falar ainda que talvez até a subida ao poder dos "Khmer vermelhos" contra o Príncipe de Cambodja nem se tivesse dado).

6. A primeira conclusão? "A guerra no Iraque está a ser perdida pela conjugação de factores clássicos que já se tinha visto no Vietname - dificuldade de combater numa ecologia comunicacional agressiva, com governos e opiniões públicas respondendo a diferentes factores de racionalidade e emotividade, associada à perda de capacidade de, nas democracias, se fazerem políticas impopulares a mais do que a curto prazo, fragilidade e divisão dos aliados locais "

Ou seja, o problema das democracias na guerra, é ... serem democracias e terem que se prestar contas incómodas à população sobre um assunto menor.

Ah, mas a emotividade, que entrave...Ah, que árdua responsabilidade dos políticos e a sua corte de intelectuais que sabem o que os outros não sabem:

Menos democracia é necessária para mais democracia, esta deve ser a razão de ser da "Nobel Lie", a via necessária do lider esclarecido na sua comunicação com as massas, de que Leo Strauss falava.

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