segunda-feira, 11 de outubro de 2004

Reflexão dominical

Publica-se de seguida uma interessante reflexão dominical de FCG recebida ontem por e-mail:

HOJE
10 de Outubro de 2004

Hoje é o primeiro Domingo sem as “Conversas em Família” com o Prof. Marcelo. Coitado. O Senhor Presidente do Conselho mandou cancelar o programa de que gerações sucessivas de portugueses aprenderam a gostar. Ao princípio estavam recalcitrantes, deixavam o aparelho ligado e iam à sua vida — ninguém se atrevia a desligar antes de passar o hino da RTP, sobre o fundo cinzento do transmissor de Monsanto, a encerrar a emissão – nunca se sabe quem poderá dar fé e relatar a “ocorrência”.

Nos últimos anos os portugueses afeiçoaram-se aos serões com o Prof. Marcelo e parece que mais de um milhão de eleitores via o Senhor Professor, atentava no que ele dizia e formava assim a sua consciência cívica. Mas o Senhor Professor não está no governo. Nem na oposição. E agora não está em lado algum. O Senhor Presidente do Conselho estava incomodado porque o Senhor Professor não era contraditado, coisa nunca vista nem ouvida por essa Europa fora.

O Senhor Presidente do Conselho quis tratar do assunto de forma sigilosa, por isso mandou um moço de recados fazer uns telefonemas. Discretos, se faz favor. Não fez — o favor. O raio do subalterno encheu-se de ares senhoriais, soprou a vela da soberania — Ministro que é, pois então — e desatou numa pesporrência galinácea, com cacarejos de contraditório e sei lá quantas mais figuras processuais.

O media-capitalista subsidiário da administração da PT enervou-se, pediu calma ao Professor, que os negócios são “coisa séria”; o Professor enervou-se ainda mais e para não suster a respiração até que lhe dessem a sua liberdadezinha de volta... calou-se. Está num silêncio cristão tão profundo que não se descosia sobre o “assunto da pressão” nem que Cristo descesse à Terra.

A sociedade portuguesa, liberdadeira como só ela, enfureceu-se. O presidente do Observatório disto & daquilo declarou ser este caso “o maior atentado contra a liberdade desde o 25-do-4-de-74”. Saneamentos, partidos ilegalizados ou ameaçados, atentados terroristas, sugestões de fuzilamentos à la carte no Campo Pequeno, não pesam mais que a leveza das coisas idas na balança do contraditório do Sr. Joaquim Vieira. Isto é hoje, isto é connosco e isto é grave.

O Panopticon da Soeiro Pereira Gomes exalou um suspiro de “preocupação profunda” com a liberdade do Senhor Professor. Se o Dr. Cunhal tivesse levado a dele Avante nada disto acontecia. E é verdade. Que o actual líder comunista esteja demissionário de todos os cargos políticos e partidários que presentemente ocupa não nos deve distrair do “atentado”. O partido funciona dentro da normalidade democrática e brevemente uma nova borboleta marxista eclodirá de uma das crisálidas gerontocráticas armazenadas no Comité Central.

O Dr. Miguel Sousa Tavares gritou “finis pátria!” pela vigésima sétima vez este mês e retirou-se para o Alentejo, onde lê Jack London enquanto pensa se vai ou não tomar uma decisão e, caso tome uma decisão, que decisão será. É de homens directos e resolutos — como o Dr. Tavares — que a nação precisa.

Por entre os anões, os palhaços e os caniches com saias de tule cor de rosa destacou-se o Dr. Alberto João Jardim. Avançou para o centro da tenda de circo e declarou que “Portugal é um pais esquisito”.

Pois é.

FCG

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