quarta-feira, 8 de novembro de 2006

Sobre o conhecimento da ignorância

José Manuel Moreira, Professor universitário e membro da Mont Pélérin Society:

"(...) Isso foi bem visível nos comentários a propósito da atribuição do Nobel a E. Phelps.

Os comentadores – unidos no aplauso – dividiram-se entre dá-lo como renovador do keynesianismo, situá-lo entre o intervencionismo de Keynes e o monetarismo de Friedman, ou entre este e o R. Lucas das “expectativas racionais”. De todos, o último é talvez o mais verdadeiro, mas também o mais preocupante, ao situar Lucas como novo modelo. Questionar o pressuposto de Keynes de que os governantes são racionais e os outros “irracionais” (incluindo os ‘spirits animals’) e, por isso, dados à ilusão monetária, é acertado. Mas esquecer que Lucas – ao democratizar a ilusão das “expectativas racionais”– só ajudou a prolongar o equívoco, é perigoso.

Depois de Stigler – pioneiro da chamada economia das informações imperfeitas – surgiu uma tendência para se considerar que a (minha) ignorância é algo de que tenho pleno conhecimento. Por outras palavras: eu sei exactamente o que não sei, e sei como obtê-lo. E mais: sei quanto me custa essa obtenção. Foi assim que o “conhecimento perfeito” voltou a ser um pressuposto.

Se eu tiver de ir ao novo aeroporto amanhã à noite e não souber como chegar lá, não há problema; sei a quem perguntar como se chega lá. Portanto, desde que eu saiba exactamente o que é preciso para obter a informação necessária, saberei então como chegar ao novo aeroporto. Eis como se chegou à decisão da OTA (e estudos do TGV e Scuts). É por isso que Lino sai mais caro do que Pinho, e tanto mais quanto os otários confiarem que o senhor sabe como (nós vamos) lá chegar e quanto custa.

Aqui o paradigma austríaco ajudaria. Infelizmente, mesmo Lucas, que reconheceu a sua dívida intelectual para com Hayek, revelou-se incapaz de ver que aquilo que este mostrou foi que os preços informam sobre o que é necessário corrigir. De facto, o verdadeiro papel informativo dos preços que a Escola Austríaca ensina refere-se à sinalização dos erros que estão a ser cometidos e aos locais onde as correcções prioritárias devem ser efectuadas. Erros que, em geral, o voluntarismo dos governos impede que se descubram a tempo e horas. "

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