domingo, 8 de março de 2009

O preço do ouro (expresso em ouro) e o "Lender of Last Resort"

Carlos Santos: "quando eu lhe explico que o preço do ouro pode variar você insiste que ele é fixo; nega que um banco central seja “lender of last resort” porque tem poder de emissão monetária; insiste que as reservas bancárias são um instrumento de controlo da massa monetária quando lhe expliquei que um exercício contabilístico elementar anula o seu efeito. "

Quanto ao ouro e o preço poder variar. Mais um mal entendido talvez mútuo. O que eu gosto de sugerir é imaginar as leis económicas (seja de que ponto de vista ou escola) numa economia com massa monetária fixa (o que por si pressupõe Mas é melhor realçar que existem reservas de 100% quanto aos depósitos à ordem). Com esta imagem, podemos entender que se a procura por moeda aumenta, os preços caiem se tudo o resto se mantiver constante.

O Carlos Santos ao afirmar que em economia não podemos assumir nada constante, tem toda a razão, mas isso não significa que não seja possível perceber as diferentes causas-efeitos independentes, sendo certo que os austríacos são os primeiros a realçar a incapacidade de reduzir ou deduzir leis universais a partir da observação, porque esta é não só demasiado complexa de caracterizar como mesmo sendo possível reunir todas as variáveis independentes e as relações entre elas só vai sair disso uma caracterização histórica.

Entretanto não leve a mal insistir que esta sua tirada sobre euros e ouro está vazia de significado (mas creio que derivado de um mal entendido):

"Imagine que circulam na economia apenas moedas de ouro. Têm um valor cunhado. Suponha que uma moeda de 5 euros em ouro vale de facto, em termos do seu peso, 5 euros em ouro. Suponha que o preço do ouro sobe (eg. um terramoto destruiu as minas principais). Um moeda com aquele peso passa de um minuto para o outro a valer 100 euros. Eu derreteria a moeda e venderia o ouro por 100 euros. Ganhava 95. Acha que era mau negócio?"

Eu suponho que queria dizer que imaginemos que a massa monetária diminui porque se perdem umas quantas e significativas moedas no mar (coisa que acontecia). Bem, os preços diminuíam em GRAMAS de ouro porque passava a existir menos ouro. 

Não tem é significado "Suponha que uma moeda de 5 euros em ouro vale de facto, em termos do seu peso, 5 euros em ouro" porque deixaria de existir valor em euros por si. Passava tudo a ser expresso em gramas de ouro de forma directa ou indirecta. No caso de um barco afundar, 5 euros continuavam a valer o mesmo peso em ouro (x gramas de ouro) porque isso estaria nominalmente expresso na nota, e se de facto a massa monetária descesse, os preços expressos em gramas de ouro desceria (ou cada nota de 5 Euros valendo os mesmos gramas em ouro veriam aumentado o seu poder de compra).

Bancos Centrais e Reservas: Na verdade, na fonte, o Banco Central pode aumentar a base monetário no que quiser, como o está a fazer agora. O nível de reservas obrigatórias deveria pelo menos determinar o quanto o crédito (e moeda) é expandido a  partir de um dado nível de novas reservas detidas pelos Bancos. O ponto levantado pelo Carlos Santos:

"pense numa reserva obrigatória de 5%. Por causa dos sustos, o banco decide ter reservas acima disso: digamos que tem 10%, no conjunto, em reservas. Se o Banco Central subir as reservas obrigatórias para 10%, o banco em causa só precisa de fazer um exercício contabilístico, e transferir um tipo de reservas para outro. A capacidade de concessão de crédito não sai alterada."

Refere-se creio eu, a que por exemplo com a desregulamentação nos EUA entre "checking accounts" e "saving accounts" (lá para 1983), a distinção entre Depósitos sujeito a reservas e não sujeita a reservas ficou difícil de distinguir.... o que terá levado o Alan Greenspan a afirmar "we do not really know now what is money"- o que em si encerra a anormalidade do presente sistema monetário.

Mas eu nem sequer tinha feito considerações sobre a eficácia das reservas ou não. Estou para além disso. Vamos lá ser claros. Para mim:

- Não deve existir nenhuma política monetária
- Os DO devem ter 100% de reservas por uma questão jurídica (depósito civil) e porque na minha tese "good money drives bad money away" (fazendo desaparecer aqueles emissores com notas e DO com reservas inferiores a 100%)
- Deve existir liberdade de emissão (o que conduziria ao uso do ouro e prata)

Vamos agora ao "Lender of last resort".

Mais uma vez, por definição, um "Lender" devia ser uma entidade que está na posse da guarda de um bem finito ou cuja existência passa por uma produção quem tem uma procura natural e voluntária - moeda commodity por exemplo -  e se propõe emprestar a outra entidade que dela precise.

Em padrão-ouro podemos imaginar que um conjunto de bancos formem voluntariamente uma "clearing-house" de modo a minimizar a quantidade de ouro envolvida em múltiplas liquidações com variadas contrapartes, passando estas liquidações a serem efectuadas por valores líquidos ("netting") num dado ciclo de liquidação (vamos dizer, um dia). Adicionalmente, por arranjo contratual-institucional no caso de uma falha de liquidação, essa clearing-house poderia emprestar uma dada quantia de ouro em dadas condições para impedir a falha geral  do seu sistema de "Netting" (por exemplo, cheques). Isto configura um "Lending of last resort", cuja dimensão está limitada a contratos e tendo como subjacente recursos finitos.

No caso dos presentes Bancos Centrais, começaram por proibir o uso do ouro, impuseram a moeda que fabricam e injectam como "política monetária", deixam o sistema bancário expandir o crédito por criação de moeda (via reservas de caixa), e depois injectam mais moeda quando os bancos ficam naturalmente em falência (materializada na falta de reservas para transferirem para outros bancos quando solicitados para isso). E isto não é conceptualmente um "Lender". Eu sei que serei só eu a levantar o ponto como ele vale por si próprio.

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