domingo, 8 de março de 2009

Hayek, Friedman e os neoclássicos

O que o Carlos Santos diz aqui é bastante aceitável e transcrevo na totalidade  (irei comentar posteriormente):

"No caso do CN, o caminho para as conclusões que propõe vai por outro lado. Por uma relativamente marginal escola de pensamento económico: a escola austríaca. Entendida de forma algo estranho porque deixam o Schumpeter de fora e metem o Friedman. E dentro da escola austríaca a inspiração de pessoas como o CN está em gente como Mises,B. Bawerk e Menger,…. e no F. Hayek.

Eu tenho muitos problemas conceptuais em lidar com os argumentos austríacos, porque eles têm uma abordagem à economia que nem eu nem a grande maioria dos estudiosos pensa ser sequer científica. A base do pensamento deles é apriorística e baseada numa praxeologia. Isto é, definem um axioma: o homem tem necessidades, por exemplo. E o resto vem por dedução lógica. Se algum corolário não se coaduna com a realidade empírica, o problema é da realidade.

Quando afirmo que contrario os neoliberais com os seus argumentos estou geralmente a reportar-me a falácias neoclássicas que são o core do neoliberalismo. A sua vertente austríaca pode ser refutada empiricamente mas caímos num impasse: eles não aceitam que os dados refutem a teoria, e eu não compreendo uma ciência que não se sujeite à prova empírica. Volto a dizer, nem a maior parte dos economistas académicos no Mundo.
Muita da marginalização da escola austríaca resulta daí: das proposições deles ou não são verificáveis no modo como as formulam (e não são sujeitas ao critério da falsificabilidade) ou eles não aceitam a verificação estatística. Apesar de tudo os neoclássicos vivem melhor com o confronto com a realidade. E os monetaristas.

Há contudo um mérito que eu reconheço a um membro da esola Austriaca: o Hayek. Ele está infinitamente mais próximo do pensamento evolucionista e institucionalista do que a maioria dos outros. E, num aspecto que eles não reconhecem facilmente, o Hayek é a antítese do Milton Friedman. Porque em Hayek, o homem é livre de facto. E por isso o empresário é entendido como alguém que tira partido de oportunidades que observa e outros não. Eu entendo que seja neste sentido muito particular que o CN fale em o mercado existir por haver informação imperfeita. Tenho pena é que ele não compreenda que o habitual neoliberalismo de raiz neoclássica diz o contrário.
A concepção humanista do Hayek é contudo muito diferente da do Friedman que já vi louvado pelo próprio A. Alves. Para o Friedman os homens são autómatos puros. Porque reagem mecanicamente aos preços e equilibram instantaneamente os mercados. Isto como já expliquei longamente está a milhas de fazer sentido real. E por muito que eu discorde do Hayek em muita coisa, eu acho que eles serviam melhor a sua causa largando o Friedman, porque são concepções antropológicas distintas. Porque não o largam? Disseram-me em tempos que o Friedman era louvável por defender a ausência do estado na economia. E isto já é uma ideia em que os fins justificam os meios. Como lhes agrada a conclusão adoptam o autor. Mesmo que ele chegue lá negando tudo em que eles acreditam. Porque não é coerente defender o empresário do Hayek e o agente representativo do Friedman.
Mas em todo o caso, a concepção deles de mercado livre está mais próxima da ausência de qualquer papel do Estado do que a dos liberais clássicos. E negam a possibilidade de política económica. Uma subcorrente, em que pelos vistos o CN se inscreve, tem uma nostalgia enorme do padrão ouro. Nesse sentido, eu não tenho nada a ver com essa tribo."

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