domingo, 8 de março de 2009

A guerra pelas definições

(Parte deste diálogo deve-se a mal entendidos sobre definições e termos, mas não só):

Carlos Santos: "3) Enfim isto é básico, mas quer meter a colher e nem isto sabe de economia: pagar um salário acima do valor da produtividade marginal não implica prejuízo. Se não sabe isto, leia qualquer coisa de micro elementar. A empresa que paga salários de eficiência, e portanto maiores que a produtividade marginal, pode perfeitamente ter lucro. O âmago do problema (conhecido pelo menos desde 80) é que contrata menos trabalhadores. Por isso a informação incompleta pode gerar desemprego."

Se definirmos como salários de equilíbrio ( miseseano) o valor a partir do qual nenhuma empresa tem lucros acima do normal (o que chamaria concorrentes) nem abaixo (uma e outra situação conduz inevitávelmente a reafectação de recursos  -  como nota adicional num equilíbrio onde a incerteza desaparece a taxa de lucros corresponde à taxa de juro (que existe dada a preferência temporal das pessoas por consumir ou realizar fins hoje em vez de uma data futura), o pagamento de salários acima do valor de produtividade que reduza os lucros abaixo do normal é assim por definição apenas temporário. Se é possível realizar o mesmo fim com um salário menor, ele terá lugar. E sendo assim, nenhum salário está acima do que deveria e poderá ser.

Carlos Santos "Notas finais: a teoria da agência não é “minha”; confundir procura de moeda com velocidade de circulação é de quem nunca leu um livro de macroeconomia sério; admitir o bimetalismo é nunca ter ouvido nada sobre a lei de Gresham (o que a má moeda faz à boa?), nem na analogia que dela fez uso o actual Presidente da República; quando eu lhe explico que o preço do ouro pode variar você insiste que ele é fixo; nega que um banco central seja “lender of last resort” porque tem poder de emissão monetária; insiste que as reservas bancárias são um instrumento de controlo da massa monetária quando lhe expliquei que um exercício contabilístico elementar anula o seu efeito. E no resto remete para a ortodoxia dos “austríacos que gosta”. Porque de gente como o Schumpeter você não quer nem ouvir falar."

Teoria da Agência. Todas as organizações têm de a ter em conta e os custos de o tentar minimizar fazem parte dos custos de produção. E não é mais do que isso. Saber que os problemas de agência só podem ser muito superiores quando nem sequer existem accionistas (os prejudicados com isso), é digamos algo de esperar.

"Velocity": A subida na procura de moeda materializa-se no aumento dos saldos monetários das pessoas o que o retira da circulação fazendo assim diminuir os preços... mas muito importante.. Breaking News.. não tem de afectar a taxa de juro que é uma manifestação de uma preferência temporal. O termo "Velocity" não tem qualquer existência independente dos termos onde o querem que assuma essa existência. Eu diria que o uso do termo "velocity" espelha tudo o que de mau uso os economistas fizeram da aplicação da matemática e estatística (e a mistura entre elas)  numa ciência que estuda a acção humana. Curioso é que a matemática sendo apriorística corresponde ao que os austríacos reivindicam quanto á economia: uma ciência apriorística sobre a acção humana - praxeologia, que deduz leis lógicas universais a partir da realidade da acção humana, e para o qual a matemática e/ou a estatística não são adequados como linguagem, sendo mais ferramentas de caracterização e fotografia de comportamentos históricos (isto para comentar uma nota posterior do Carlos Santos).


[Recomendo: Is Velocity Like Magic?, Mises Daily by Frank Shostak: (...) Contrary to mainstream economics, velocity does not have a "life of its own." It is not an independent entity--it is always value of transactions P(T) divided into money M, i.e., P(T/M). On this Rothbard wrote: "But it is absurd to dignify any quantity with a place in an equation unless it can be defined independently of the other terms in the equation." (Man, Economy, and State, p. 735)

Since V is P(T/M), it follows that the equation of exchange is reduced to M(PxT)/M = P(T), which is reduced to P(T) = P(T), and this is not a very interesting truism. It is like stating that $10=$10, and this tautology conveys no new knowledge of economic facts.]

Lei de Gresham: Estou a preparar-me para escrever um texto com o LAS para defender que em liberdade monetária a "Boa moeda afasta a má moeda". O que está de acordo com o significado da Lei de Gresham: com o intervencionismo na emissão de moeda (com fixação de valores e paridades e o que mais se lembraram já no passado), a sobrevalorização artificial da má moeda conduz a que as pessoas guardem a boa moeda em casa retirando-a de "circulação".

(continua)

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