sábado, 24 de setembro de 2005

Victor Davis Hanson

Vou aqui comentar passo a passo um "excelente" artigo de VDH.

1. "...pro-terrorist Sunni Triangle. "

Desde quando é que o terrorismo no Médio Oriente (primeiro palestiniano e depois a AlQaeda e afins) é Sunita iraquiano?

2. "But the existing problem in the Middle East stems from too much sectarian tribalism, not an excess of nationhood. How critical Iraqi resources would be split up, or how the peace would be kept by simply repackaging the problem, is never explained"

Como é que sabendo disso fazem uma invasão para mudar um regime secular dominado pela ânsia de enraizar uma identidade nacional extra-tribal-religioso?

Mas já agora, exactamente que problema do Médio Oriente é que é dominado pelo sectarismo tribal?

E porventura o "Ocidente" deseja uma União Pan-Arabe, coisa que muitos lideres árabes já sonharam e felizmente nunca conseguiram?

3. "A Sunni/Zarqawi state would be hyper-Wahhabist in the manner of the Shiite south becoming ultra-theocratic"

Talvez sim, talvez não. Os Sunitas não são wahhabistas e os Shiitas no sul são arabes apesar de tudo e não persas como no Irão. A ironia é que por exemplo os "extremistas" de Sadr opõem-se à influência iraniana e são a esses mesmo que se dedicam a destruir.

4. "India has far fewer problems from its own multimillion-person Muslim minority than from neighboring Islamic and nuclear Pakistan."

Isso quer dizer que os EUA e a Rússia deviam formar um único Estado-Nação Federal? Então o Paquistão devia ser parte integrante da Índia? Digam isso aos rapazes...


Talvez o velho (e injusto) dito que "ofereçam uma pistola a um alemão e ele começa a caminhar para França" seria evitável se de facto, tivessem desde sempre feito parte do mesmo Estado!

Mais ridiculo que isto...e que maior prova para sabermos que estes neocons nada têm contra o conceito de governo mundial desde que seja a sua Pax NeoCon. Eu percebo a lógica, como Estado uno ninguém se "nuke" a si mesmo.

5. "The dismemberment of Yugoslavia in retrospect does not seem such a good idea. We almost destroyed the United States in 1861-5, and would again if we ever carved out separate White, Hispanic, and African-American states. "

O desmembramento da "Yugoslavia" começou no seu nascimento, um Estado artificial para ajudar à destruição do Império Austro-Húngaro pela referência históricas NeoCon - o internacionalismo moralista de Woodrow Wilson que deu o século 20 à humanidade.

Mas pensando no assunto, afinal porque raio é que os NeoCons instigaram Clinton à intervenção contra os Sérvios quando estes tentavam impedir aquilo que hoje já parece inevitável - a divisão da Sérvia (Kosovo)? E porque hoje estão prontos a um conflito impensável com a China por causa do direito de secessão de "Taiwain"?

Ah mas a referência a "quase destruimos os Estados Unidos em 1861"...sempre soubemos que o que estava em causa era a preservação da União pela força.


Agora, quanto a "if we ever carved out separate White, Hispanic, and African-American states." Olhe que não sei...olhe que não sei...a Áustria era um Império Católico mas multi-étnico-religioso...e desapareceu, e ficou a Jugoslávia e esta também desapareceu...e a checo-eslováquia também. O que foi a Rùssia durante séculos também. No caso americano, o que acontecerá se aí vierem tempos turbulentos...

6. "Even an independent Kurdistan would not be for Iraqis only, but would soon draw in Turkish and Iranian Kurds as well"

Sim, as maravilhas deixadas por Churchill no Médio Oriente...

7. "The Romans’ old mantra of “divide and conquer” is also being raised."

Humm...agora temos o historiador imperialista que não aprende com a história d"O" Império.

E por acaso não são os pequenos Estados (de monarquia absoluta) os mais civilizados, desenvolvidos e sim, livres do mundo árabe?


PS: ainda algum espertinho me vai tentar convencer que no Egipto, com a vitória democrática do mesmo poder político , as pessoas são com que misticamente mais "livres" que digamos, no Dubai,

8. "For all the present and legitimate criticism of our war, Iraq and Afghanistan are about the only places in the Middle East where Muslims are seriously fighting terrorists every day — and that is only because they are slowly becoming constitutional"

Terroristas e combatentes de terroristas, fica-se confuso. Quanto a Constituições...o que vale (e como vai ser sustentável) um papel escrito enfiado na ponta da baioneta e usd de impostos, quando a Constituição Americana diz expressamente só o Congresso poder declarar guerra..."oh, never mind"...
Mas será que tudo irá correr mal? Não sei...até pode ser que corra bem...mas a que preço? E que eventos inesperados se tornaram mais prováveis que antes?

9. "We are still living down our earlier attempt during the Iran-Iraq War to play the two sides off each other while a million died. The legacy of that earlier cynicism was Iran-Contra, embarrassing feelers put out to Saddam that may have emboldened him later to take Kuwait, and general Arab distrust of American motives. Allowing Saddam to survive in 1991 (“to keep order”), and then letting him butcher rebellious Kurds and Shiites was a tragic mistake. In the 1980s giving a blank check in arms supplies to Islamists to stop the Soviet invasion of Afghanistan proved a wise short-term move — but a foolhardy long-term strategic gambit."

Estranho, notarei aqui um texto isolacionista pelo não-intervencionismo? Sim, o problema começa antes: nos anos 50 a CIA e os Ingleses depõem um Presidente Iraniano eleito porque este ameaçava nacionalizar a indústria de petróleo...(coisa que os Ingleses tinham feito à sua própria indústria!). Saddam quando sobe ao poder foi ajudado no esmagamento dos comunistas e mais tarde com a Revolução Iraniana torna-se mais útil ainda. Quando invade o Koweit, recordemos, o petróleo estava nos 10 usd, o Iraque já afundado em dívida externa, e existe...sim, existe...uma prévia consulta de Saddam ao embaixador americano no Koweit (cujas fronteiras e estatuto é disputado assim como as alegações de furos transversais foram irónicamente já repetidas pelo actual governo). No ínicio nem o próprio mundo árabe ligou muito ao assunto e o Rei da Jordânia já tinha começado a servir de elemento de negociação. O que depois sucede sabemos..Saddam o "novo Hitler" (e cruzes, ninguém quer ser "Chamberlain" que por "appeasement" se atreveu a concordar que a parte alemâ de um estado artificial saido de Versailles se tornasse alemâo - embora ter feito de Estaline um aliado e o vencedor da Segunda Grande Guerra parece não incomodar ninguém), descrições fictícias de atrocidade num infantário do Koweit (como foram as histórias de alemães a trespassarem bébés na Bélgica para Ingleses), e principalmente, a falta de conexões da indústria petrolifera iraquiana comparada com a do Koweit.

A justificação para deixar Saddam no poder em 1991 foi brilhantemente defendida por Bush-pai num paper célebre. Mas estranho é alegar que Saddam esmagou uma (instigada no fim do Golfo I) rebelião Shiita no sul e Kurda no Norte. Afinal, é pro-separatista ou será que os shiitas e kurdos tencionavam (e tencionam?) instituir uma pacifica Federação Suiça?

A menção a como ajuda ao "Afeganistão" contra os Russos teve as suas "unintended consequences" (Bin Laden) será um acto (freudiano) falhado?


...por falar nisso, a invasão "soviética" deu-se no meio (e por causa) de uma guerra civil e para conter o alastramento islâmico pelas repúblicas soviéticas dentro...é que pelo menos eram vizinhos...

10. "In short, divide and conquer simply embodies an updated version of the Cold War Realpolitik strategy of letting surrogates wear themselves out to our advantage. It is precisely that policy — however seductive to our own interests — that helped to bring us to our current dilemma. "

VDH não se apercebe que o actual dilema actual foi ele que o criou e que a Realpolitik da Guerra Fria (este mesmo problema - a Guerra Fria - foi herdado da mania pouco cristã e civilizada da Vitória Total à custa de quantas vidas civis tivessem sido necessárias, quando qualquer solução negociada teria sido melhor que o domínio comunista por 50 anos na Europa e da Ásia) conduziu o século 20 a um final feliz e pacifico.


Portanto, a que teria acrescentado uma Vitória Total em 1991? Por acaso não sabemos hoje - na verdade ja o sabiamos, mas hoje muitos são obrigados a reconhecê-lo contra sua vontade - que Saddam e o seu regime não ofereciam nem um "dinar" de perigo militar para quem quer fosse? Terrorismo não existia, nem influência do Irão, nem "perigo" (não sei se é perigo, pode bem ser o único caminho possível) de separatismo.

Como é que podemos estar a ouvir alguém que se justifica realçando os perigos daquilo que ele próprio criou? Porque o estatismo vive sempre dos seus próprios desastres.

11. " If we should now depart, things would insidiously revert back to the depressing pre-September 11 status quo — or worse yet. "

A depressão só a arranjamos depois de 11 de Setembro. Se Bin Laden tivesse sido apanhado com um pouco de paciência e operações especiais, podia-se ter o ganho o respeito do mundo árabe não-extremista. Isso e menos plantações de Ópio no Afeganistão.

Em vez disso, levamos com a depressão de vermos à direita chamar-se "fascista" aqui e ali, e à incitação à revolução (que lembremos, incluia o actual poder agora democrático do Egipto e a queda da monarquia na Arábia Saudita). Mais deprimente que isto não existe. Mas ainda pior, foi ver uma operação militar com base no maior conjunto de fabricações (ok, chamemos erros) securitárias desde que Hitler alegou legitima defesa contra a Polónia.

12. "Our current policy is not just correct because we are now wedded to it. In fact, it is a reaction to our past strategy of realpolitik coupled with appeasement. That strategy led us to 9/11 and a quarter century of terror originating in Iran in November 1979 — whether we define that history as cynical support for dictators, leaving after lobbing a few shells and bombs in Lebanon, Afghanistan, Somalia, or Iraq, or allowing wounded tyrants like Saddam to stay in power. "

My God, a palavra "appeasement" outra vez (e que tal "Blessed the peacemaker"?). E "Realpolitik" .... Portanto, é feita a critica ao "cynical support for dictators" (que por acaso acabou por estar na origem do anti-americanismo iraniano) e são 25 anos de terrorismo iraniano? Mas pensei que a AlQaeda era de origem Saudita...ou fala do enorme apoio à "causa" na Palestina ao ponto de quê?...fornecer suicidas para enfrentar tanques, "eliminações" de tetraplégicos com misseis teleguiados e F-16??

E esta coisa do "allowing wounded tyrants like Saddam"...isso quererá dizer que os regimes existem porque os EUA (ou a coligação, ou comunidade internacional, ou...Deus?) os deixam existir?

13. Afinal o que temos aqui? Um moralista critico de todo o intervencionismo passado a favor de ditadores? Muito do anti-americanismo é feito disso mesmo. Não é estranho? Depois o primeiro chama fascista aos regimes de que não gosta, e vemos os segundos a tecer grandes raciocinios próprios de conservadores sobre como não nos devemos meter na vida dos outros e como a ordem social de cada cultura deve ser respeitada.

Temos assim um militarista-moralista-optimista-revolucionário-anti-fascista-historiador-humanitário-intervencionista-nacionalista-internacionalista...mas é mais sucinto o "extremismo-ao centro".

Gostei desta, "The Middle East is a better place..." mas isso é só porque o resto do mundo está pior

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