Ontem, na entrevista à TVI, Soares zangou-se. Começou já a fazer a Cavaco o que fez em 1986 a Freitas do Amaral, esse conhecido líder da "direita revanchista". Disse sobre o adversário, com grande à-vontade, uma série de inverdades, esquecendo-se que, nalguns casos as palavras lhe assentam que nem uma luva. Soares sugeriu, por exemplo, que Cavaco "abandonou" o poder em 1995, fugindo de uma derrota certa. Na verdade, ao fim de dez anos no poder (e com três eleições legislativas consecutivas ganhas), Cavaco anunciou a sua saída muitos meses antes das eleições e o PSD escolheu um novo líder em congresso. Mas o que fez Soares dez anos antes? Depois de apenas dois anos como 1.º ministro e num fim que não queria nem decidiu do seu governo, Mário Soares preferiu deixar a liderança do PS, abandonando o seu partido à maior derrota da sua história. Convenientemente, nessas eleições legislativas de 1985, o "camarada" Almeida Santos substituiu-o na humilhação inteiramente devida à impopularidade do então 1.º ministro. Como explica Soares isto? Terá sido um exemplo da sua célebre "coragem política"?
Mais dois apontamentos. Soares disse que Cavaco não tomou posição sobre a guerra no Iraque. É falso. Condenou a intervenção aliada no Iraque, apoiando as opiniões então expressas por João Paulo II. Soares tentou ainda menorizar Cavaco por este não ter, alegadamente, "cultura humanística". Tendo formação em humanidades, senti-me profundamente chocado com tamanha arrogância de alguém que nega a plena cidadania a muitos milhares de portugueses com formações académicas diferentes da sua.
Sem comentários:
Enviar um comentário