segunda-feira, 14 de novembro de 2005

Cavaco: água na fervura...!


Num momento em que alguns liberais se preparam para apoiar a candidatura de Aníbal Cavaco Silva à presidência da República, convém deitar alguma água na fervura porque, se o simples apoio se percebe, já o entusiasmo me parece estranho. Cavaco Silva presidiu aos governos que no pós-revolução levaram a cabo a maior subida da despesa pública no País. Isso aconteceu porque Cavaco optou claramente por um modelo social-democrata de desenvolvimento, com extensão do Estado social, aumento das regalias dos funcionários públicos e crescimento exponencial do número desses mesmos funcionários públicos. Só no fim da sua década no poder conseguiu algum equilíbrio financeiro para possibilitar a adesão ao euro, mas era patente para observadores acutilantes (como Pedro Arroja, por exemplo) que as opções "estruturais" de então eram estatistas e teriam custos pesadíssimos no futuro. Para quem o diz "anglófilo", não deveria ser esquecido que ele foi um dos maiores apoiantes de Jacques Delors e do chanceler alemão Helmut Khol – os grandes defensores continentalistas da união política europeia contra o cepticismo militante de Margaret Thatcher – e que isso representou a maior guinada anti-atlantista da nossa história política recente. O cavaquismo foi aliás uma importação de toda a ideologia "social-europeísta" para dentro de fronteiras, com todas as características e consequências que os liberais hoje condenam. O guterrismo foi apenas a continuação do cavaquismo em anarquia governativa, com os vários ministros em auto-gestão e as contas de novo descontroladas, mas com todas as opções de fundo (internas e externas) inalteradas. Que um liberal diga que apoia Cavaco porque é o menos mau, é uma coisa; que um liberal se entusiasme com Cavaco, é coisa que está para lá do meu entendimento!

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