Em abstracto, a concorrência monetária é benéfica pela disciplina que induz mas, no caso concreto de Portugal nos últimos anos, tenho poucas dúvidas de que, se não fosse o Euro, o país há muito estaria na bancarrota e teria voltado a sofrer de taxas de inflação altíssimas. A impossibilidade de conduzir políticas cambiais e monetárias expansionistas não é um “custo” mas sim um tremendo benefício, já que tem impedido os governos portugueses de resolverem os seus problemas de curto prazo através de desvalorizações e do - sempre tentador, apesar de economicamente destrutivo e brutalmente injusto - imposto inflacionário.
A aplicação das receitas expansionistas keynesianas em nada contribuiria para resolver os problemas estruturais da economia portuguesa ou europeia e provavelmente até os agravaria a médio prazo. Isto para já não falar de que uma provável bancarrota, no caso de Portugal, provavelmente arrastaria consigo esta “III República” trazendo forte instabilidade política.
O mesmo Euro não impediu a Irlanda de crescer a taxas excepcionais. E não impediria também Portugal de fazer o mesmo porque o problema essencial não está na política monetária mas sim em inúmeros bloqueios como a rigidez do mercado laboral, a tributação predatória, a regulação excessiva e arbitrária, a inoperância do sistema de justiça, a fraca qualidade da educação, a cultura de nepotismo e a captura do Estado por parte de várias corporações sectoriais e profissionais.
Quanto às supostas implicações nefastas e limitativas da disciplina imposta pelo Euro, creio que continua a aplicar-se o que foi escrito neste artigo há mais de três anos: Is the Stability and Growth Pact anti-growth?
O Euro comporta riscos sérios (nomeadamente se prevalecerem a nível europeu as irresponsáveis pressões políticas para inflacionar e desvalorizar) mas, pelo menos no que diz respeito a Portugal, o balanço da adesão ao Euro parece-me largamente positivo. Só me parece possível pensar de outro modo se se admitir que uma política monetária portuguesa autónoma não teria repetido os erros do passado recente, um pressuposto a meu ver claramente irrealista com o actual enquadramento político e institucional.
Adaptado deste post: O keynesianismo não é solução.
Leitura complementar: I beg to differ
Post anteriormente publicado n'O Insurgente.
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