Público: "A guerra civil no Iraque", Vasco Pulido Valente
A "destruição da Mesquita Dourada de Samarra, o santuário xiita, onde está o mausoléu do décimo imã, Ali al-Hadi, e do décimo primeiro imã, Hassan al-Askari, o avô e o pai do "imã escondido", que voltará no fim do mundo, para restabelecer a justiça, prova que não haverá paz no Iraque. A guerra civil a que os peritos têm chamado "guerra de baixa intensidade", um eufemismo particularmente obsceno, passará pouco a pouco a uma "intensidade" sem qualificação, apesar do Exército americano e da fantasia e de um Governo "unitário" e de um Parlamento "eleito". A experiência de nation building, que excedeu em cegueira e arrogância, qualquer precedente histórico moderno, acabou de vez. Mas não acabou ainda o efeito que vai ter sobre o Ocidente.A América está metida, ou se quiserem ele própria se meteu, num beco sem saída. Não pode "pacificar" um "país" dividido por uma querela religiosa de um milénio e meio (já para não falar em divisões de etnia e de tribo), mesmo que aumente o número de tropas no terreno para um milhão ou mais (coisa que os militares insistentemente recomendam e que nem Bush se atreve a propor). Não pode escolher e apoiar um lado, no caso a maioria xiita, sem perder para sempre o islão sunita (incluindo um aliado indispensável como a Arábia de Saud), perturbar catastroficamente o equilíbrio regional e, em última análise, entregar o Médio Oriente à hegemonia do Irão. E não se pode, quanto mais não seja por razões de política doméstica e prestígio internacional, conservar indefinidamente cento e tal mil homens no Iraque, sem espécie de missão compreensível, no meio de um sarilho que não lhes diz respeito.Infelizmente, inventar uma desculpa e fazer as malas também não é hoje uma solução. Se a América saísse do Iraque, a guerra civil muito provavelmente alastraria aos territórios vizinhos, com consequências catastróficas para o Ocidente e para o mundo inteiro. Não há sequer a possibilidade de uma retirada parcial, que isole o Iraque do exterior e limite o conflito a fronteiras defensáveis. Bush criou um problema irresolúvel e, pior do que isso, incontrolável. E, como parte da "Europa" se comprometeu no exercício ou não tem força e resolução para intervir, o Ocidente ficou sem um único recurso eficaz, diplomático ou militar, e na iminência de uma derrota total. A bomba do Irão e a campanha contra os cartoons foram, de resto, o anúncio muito claro dessa nova realidade."
PS: O mais grave é termos de continuar a aturar as tiradas churcillianas misturadas com idealismo wilsoniano, militarismo iluminado napoleónico, internacionalismo trotskista, nacionalismo globalista, anti-fassismo turculento, federalismo tribal, etc e tal. E o esperado ainda é "sermos" arrastados para novos problemas a serem resolvidos com as mesmas soluções. Guerra civil no Iraque se retirada total? Talvez sim, talvez não, talvez durante uns tempos depois pacificado com a criação endógena de novas regiões-nações. Estarem divididos não será estratégicamente positivo?
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