terça-feira, 14 de fevereiro de 2006

O Relativismo e a estranha morte do Ocidente

Para Acabar de Vez Com o Mundo, por Carlos Miguel Fernandes.

O Relativismo demonstrou ser um meme resistente, e o pensamento radical, contaminado pelo romantismo hegeliano, insiste em confundir crenças na superioridade de uma civilização com racismo. Quando a estrutura mental está apenas preparada para analisar conflitos rácicos ou guerras entre proletários e capitalistas, não é fácil saltar para outro nível.

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No entanto, reconheço que existe uma brecha na tese da superioridade civilizacional do Ocidente, e que a encontramos nas palavras dos seus críticos (mas não do modo como eles desejariam). O vírus que tem ameaçado o mundo mais livre, mais justo, mais humano, o melhor de que temos conhecimento na história da humanidade é, precisamente, o Relativismo. Podemos ir mais longe, e recuar a Hegel e seus acólitos (Schopenhauer já dizia, com grande perspicácia, em 1841, que a filosofia atingira o último grau de aviltamento na pessoa de Hegel), e às traições a Voltaire, que tão bem tinha distinguido, em 1732, o espírito analítico de Newton e Locke do dogmatismo cartesiano, e a Kant, de quem o Romantismo se quis, sem pudor, apoderar. Antes, já a Revolução Francesa havia traído o ideal da Liberdade, transformando-o no fanatismo jacobino. E mais tarde, Marx atirava a derradeira lenha para fogueira do século XX. São essas as sementes do mal-estar moderno. Hoje, vencidas muitas batalhas, ainda temos que lidar com o Relativismo — e com a sua consequência lógica, o obscurantismo —, e com os discursos “sousassantistas” contra a ciência; a ideia de estado-nação, que parece dar credibilidade a qualquer reivindicação de meia dúzia de pessoas cuja especificidade cultural ou étnica pode ser a troca de uma letra por outra, continua em alta; e o transpersonalismo resiste às tentativas de liberalizar definitivamente as nossas democracias, como se pode ver no recente e inaceitável comunicado do ministro Freitas do Amaral.

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Alguns indivíduos, do lado esquerdo do cenário político, esquecem-se de metade das coisas que já escreveram e relativizam a violência que tem dominado muitas ruas dos países islâmicos. Não me surpreende. Quem aprende desde juvenil idade a raciocinar numa perspectiva colectivista, sem nunca se sujeitar a um choque ideológico, dificilmente aceitará todas as consequências do valor da Liberdade. É pena, pois um dos legados iluministas é, não só a crítica racional às ideias alheias, mas também a capacidade de auto-crítica. Não aproveitar acontecimentos marcantes para rever o edifício ideológico (mesmo que, no final, este se mantenha em pé) é sinal de rigidez e fraqueza mental. Mais uma vez, os sintomas de uma hipotética decadência da civilização ocidental, parecem vir daqueles que mais apontam o dedo ao mundo onde vivem, e no qual são tolerados, por maior que seja o disparate proferido.


Post anteriormente publicado n'O Insurgente.

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