O pessimismo em relação à política e aos políticos tem vindo a crescer entre nós e a ser visto com preocupação. Mas não deverá antes ser considerado como sinal de amadurecimento em relação ao que se pode esperar do comportamento dos políticos? Como medida contra os excessos de optimismo em relação ao que se deve esperar da política? O descrédito é sempre o resultado de um falso crédito. O que temos vindo a assistir não é mais do que a natural revolta contra as ilusões em relação a uma visão da política a que a segunda metade do século passado – com o Estado benfeitor - deu pleno esplendor.
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O cepticismo do século XVIII acerca da política e dos políticos – na realidade acerca de toda a governabilidade política– começou a desaparecer já no século XIX. Não devemos esquecer que o Estado benfeitor foi introduzido pelo Príncipe Bismarck na Alemanha ainda em finais do século XIX. Podemos até perceber a sua motivação. Ele temia tanto a democracia popular como a revolução socialista, e previu que os trabalhadores industriais poderiam ser mantidos fiéis ao colectivo – ao Estado (hegeliano) – se fossem subornados com promessas de segurança social. Em certa medida Bismarck teve êxito; o atractivo da ideologia marxista nunca foi suficientemente influente para se converter em força importante nos países desenvolvidos. Isso explica, em parte, a divisão, as dificuldades da reunificação e o impasse da última votação, que deu à Alemanha quase o pleno do equilíbrio das tais duas atitudes em relação à política: o optimismo e o pessimismo.
O que ao tempo não se previu foi a crescente influência dos optimistas que permitiu que transferências estatais limitadas dessem lugar a um crescendo de direitos adquiridos. Um processo que, em Portugal, começou tarde mas cedo – graças à mistura de socialismo e keynesianismo – deu lugar à multiplicação de programas de regalias ditas sociais que hoje cada vez mais se revelam insustentáveis e anti-sociais. As ideias têm consequências e as falsas ideias também. Daí a crise, a pressão fiscal e o conflito entre o Estado essencial e o Estado social.
Post previamente publicado no Insurgente
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