...está a conduzir a um estado de anomia internacional.
A confusão entre "Anomia" como ausência de Direito, e "Anarquia" como ausência de monopólio sobre o Direito e Coerçao é frequente.
As relações internacionais são de anarquia por natureza, porque cada Estado-Nação detém unilateralmente a soberania de definição do seu Direito e uso da Coerção, mas isso não significa que não exista a noção de Direito Internacional, leis da guerra, etc, derivadas da história e costume, etc.
Agora um estado de Anomia significa o colapso de qualquer noção de Direito Internacional, que históricamente procurou reduzir ao mínimo os conflitos e os seus danos, pelo princípio da neutralidade, e separação da sociedade civil das guerras entre Estados.
A Democracia põe isso em perigo porque no fundo, as acções dos Estados aparecem confundidas com a população civil desses Estados.
Em democracia, a prudência deve ser redobrada por causa disso mesmo.
Um dos factores que tem contribuido para este perigo de ANOMIA vem precisamente do lado da direita que devia saber melhor que isso. É cada vez mais frequente confundir as disputas por "status quos" (fronteiras, etc) com uma luta entre bem (democracia) e mal (não-democracias).
Todos os conflitos, ou quase, entre Estados, debatem-se pela procura do reconhecimento de Status Quos. Os vencedores são aqueles que reclamam que um determinado Status Quo é defintitivo. Mas nunca o é.
Na Grande Guerra, de forma construtivista e sem prudência, criaram-se muitos problemas de Status Quo. Com o colapso das velhas ordens, criação de países e modificação de fronteiras, etc, numa Guerra onde todas as partes sem excepção tiveram culpas graves (isso inclui os "aliados").
Outra coisa que é preciso referir é que a solução não é a criação de um proto-governo mundial, mas precisamente a discussão de cada Estado à volta da noção de Direito Internacional e os mecanismos de limitação dos danos em qualquer conflito: quer para as populações quer para conter o alastramento do conflito.
Hoje em dia, existe a mania quase mistica da "aliança". Mas os que defendem este ponto de vista, esquecem-se que foi a Teoria da Alianças que conduziu a que um pequeno conflito entre a Sèrvia e a Áustria, no espaço de semanas, tenha acabdo na maior tragédia da civilização com o advento do fascismo, comunismo e duas novas guerras, a Segunda e a "Fria".
Este artigo mostra bem a crise em que nos podemos estar a precipitar (não é por concordar ou discordar com o artigo ou partes do artigo):
The missing charge at Saddam's trial, By Kaveh L Afrasiabi
"Saddam Hussein's trial has finally begun, yet his most flagrant crime of committing mass atrocities against the Iranian people has not been included in the criminal complaint, for a rather obvious reason.
This, in turn, has not only made the trial a sham, at least through the prism of international law and the rights of his Iranian (civilian and military) victims, it has also made the case against him legally complicated. For a start, Saddam is presently being prosecuted for his role in the massacre of about 200 Shi'ites in 1982 in the mainly Shi'ite town of Dujail following a failed 1982 assassination attempt on him in the town. But the trouble with this case is that short of questioning Saddam's decision to go to war with Iran in 1980, his war-time decision to use the state of emergency to clamp down on dissidents is not easily prosecutable.
In modern history, governments, including the US government during both the Civil War and World War I, have suppressed dissent and trampled on civil rights in the name of national security.
So, without the benefit of condemning Saddam's brutal invasion of Iran under pretextual reasons, ie, a maritime border dispute, Saddam's attorneys can have a field day with respect to his persecution of pro-Iran "seditious" Shi'ites in the middle of that war.
Lest we forget, President George W Bush and various top US officials, including former secretary of state Colin Powell and the current Secretary of State Condoleezza Rice, have repeatedly gone on record blaming Saddam for "invading his neighbors".
Yet, somehow, this crucial accusation has been treated with legal amnesia, principally as a result of the twin factors tantamount to opening a Pandora's box:
(a) Saddam's forced annexation of Kuwait in 1990 was connected to the post World War I "divide and conquer" neo-colonialism of Western governments, thereby denying Iraq a fair share of the Persian Gulf coastline, and
(b) the Iran-Iraq war raises the taboo of US and European governments' complicity with the Ba'athist regime.
In this regard, recall the much-publicized photo of Saddam's famous handshake with Secretary of Defense Donald Rumsfeld in 1983 - back then, Rumsfeld was a private citizen acting as president Ronald Reagan's special envoy on Iraq.
Regardless, the invasion of Iran, when some half a million Iraqi soldiers poured into the country across a 500-mile front to "liberate Khuzestan", is still too recent to be left to future history's verdict.
Already, the United Nations is on record condemning Saddam for the invasion: a UN secretary general report dated December 9, 1991 explicitly mentions "Iraq's aggression against Iran" in starting the war and breaching international security and peace. (...)
Concerning the latter, Nicos Poulantzas has authored an important book on the right of hot pursuit in international law, which leaves no doubt that Iran had the legal right to engage in hot pursuit of the invading enemy inside their territory, just as Russia did to Germany in World War II.
Of course, the fact that Iran's incursions into Iraq during 1983-88 were interlaced with Islamist revolutionary slogans somewhat muddied the picture and clearly contributed to the world misperception of an Iranian "expansionism". But, strictly through the prism of international law, Iran's action was at bottom consistent with the UN purpose. [2]
Another complicating point about the trial of Saddam is the illegal, US-led invasion of Iraq in 2003, casting the legitimacy of the whole legal order in the present, still-occupied Iraq, under scrutiny, at least from the point of view of international law.
Said otherwise, the trial, and the whole court, has a legitimacy deficit that can only benefit the Iraqi insurgents and pro-Saddam diehards. Justice cannot be properly served in a legally questionable forum and, no doubt, this has the potential of turning around and haunting the occupying forces down the road. (...)"
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