sexta-feira, 7 de outubro de 2005

Discussões intra-liberais

Via Arte da Fuga: "Apesar de alguma retórica que se aproveita somente quando tirada do contexto, Rothbard raia o tipo de totalitarismo de opinião a que se convencionou chamar anarco-capitalismo— uma abordagem intransigente que se baseia numa concepção niilista da função do Estado na sociedade.É preciso que se denuncie: o liberalismo clássico nada tem que ver com o anarco-capitalismo. O liberalismo defende um Estado Mínimo, mas entendido com "Estado Necessário e Suficiente", que assume responsabilidades inalienáveis, e não uma utópica anarquia auto-suficiente."

1. Não existe incompatibilidade alguma entre Liberalismo Clássico e o Anarco-Capitalismo (que a bem dizer, a expressão de "Teoria da Ordem Natural" seria mais adequada).

2. Os AnCaps limitam-se a reflectir sobre o comportamento duma sociedade (resultante da acção humana) e economia onde existe liberdade de contratar serviços de segurança e serviços de arbitragem legal. Adicionalmente foram os primeiros a vislumbrar o que se passa já na realidade concreta:

- os meios humanos de serviços privados de segurança ultrapassam já os públicos
- os grandes conglomerados residenciais e comerciais privados: com segurança, regras, financiamento, tudo dentro de um quadro auto-regulatório contratual e não político-estatista

PS: Rothbard e David Friedam (filho de Milton Friedman) serão os principais fundadores da Teoria. O primeiro assente na Ética do Direito Natural, o segundo no Utilitarismo.

3. Se a ciência económica e social só faz sentido existir como produtora de leis universais, e não de casos especiais, o estudo da ordem social e económica só se torna completa se em primeira ordem incluir a possibilidade de uma ordem natural onde o respeito por direitos de propriedade e liberdade contratual é inteiramente respeitada ou existe a capacidade de impor esse respeito.

4. Todo o estatismo, mesmo que mínimo, é uma restrição dessa ordem. Nesse caso, o estudo da ciência económica e social nunca pode ser abrangeste, porque é tipo:

Como funciona o mercado da segurança e arbitragem de conflitos numa realidade em que existe o monópólio unilateral e coercivo por uma entidade não contratual? Bem, não existe porque não existe liberdade nessa matéria e por isso querem que assim se prove a irrelevância dessas conjecturas que por sinal cada vez são mais reais: o mercado de arbitragem privada de conflitos tem estado a crescer em todo o mundo.

5. A realidade é que o mundo não tem um Estado Mundial. Multiplos nações têm (por enquanto) soberania de escolher a sua lei e a usar os meios de violência como bem quer - é o estado de Anarquia Internacional. E não é por isso, ou aliás, é por isso mesmo, que a civilização avança (a própria ideia de liberdade individual e capitalismo aparece numa Europa completamente atomizada em termos de soberanias, entre centenas de Principados e Cidades-Estado).

6. Rothbard pagou voluntáriamente o preço de não ter medo de colocar todas as perguntas. Para além disso, como, ao contrário dos economistas do maistream (que defendem compreensivelmente a sua carreira falando o menos possivel e o menos claro possivel sobre politica do seu dia), deu opinão concreta sobre todos os eventos do seu tempo e da história: conservador-"libertarian" tradicional (na realidade, o fundador), não pacifista (pela livre posse de arma, claro) mas defensor do velho principio de neutralidade (que a esquerda primeiro e depois a direita Roosevelt friendly cunhou o termo depreciativo de isolacionista).

6. Não concordo com a afirmação de " exibem um estilo de escrita tão pouco elegante que chega a a ser desagradável".

Os textos de Rothbard são tipicamente americanos, e não infectados pelo formalismo europeu. E são muito divertidos. Experimente-se ler o seu texto INVADE THE WORLD.

7. No fim, a diferença entre Estado Minimo e AnCap não é nenhuma. Ambos são inexistentes neste paradigma de estatismo de centralismo social-democrata. E o "mainstream" estatista inclui muito liberalismo pro-estatista que não faz outra coisa senão justificar e até alargar as funções do Estado (Friedman: cheques de educação? / fim absoluto do padrão ouro com Nixon / introdução da retenção na fonte nos EUA).

8. Quanto a Estratégias recomendo:

TOWARD A THEORY OF STRATEGY FOR LIBERTY, Murray N. Rothbard

Sem comentários:

Enviar um comentário