quarta-feira, 23 de julho de 2003
Good old uncle Eddy again
Não li (ainda) o artigo de João Pereira Coutinho na "Nova Cidadania" sobre Burke, mas desde há muito tempo que discordo da sua catalogação como conservador (não é a primeira vez que falamos sobre isto); mas não sei sequer se o artigo defende essa tese... O termo não existia no tempo de Burke e, no cenário partidário da época, ele era uma das principais figuras dos Whigs (não dos Tories), defendendo com unhas e dentes nas "Reflexões sobre a Revolução em França" (1790) que as suas ideias eram as que esse partido sempre defendera e que eram "whigs" como C. J. Fox que, ao quererem transplantar para a Grã-Bretanha a então recente experiência francesa de ruptura constitucional, estavam a abandonar os princípios do partido (ver também "An Appeal from the New to the Old Whigs"). É evidente para mim que Burke estava coberto de razão. Dito isto, chamar-lhe "conservador" depende da perspectiva de onde partimos e eu julgo que o problema é Burke ter sido habitualmente lido do lado dos radicais e catalogado dessa forma (p.e. também não concordaria que Hayek fosse assim catalogado), para além de ter sido posteriormente apropriado pelo Partido Conservador britânico (o qual, no entanto, se visto do continente, se assemelha mais a um partido liberal...). Como já disse noutra ocasião, há uns meses, não concordo com o CN que alguém como Burke possa ser reclamado para o isolacionismo pacifista e volto a recomendar, para o esclarecimento de dúvidas que subsistam, a leitura das suas "Letters on a Regicide Peace".
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