quarta-feira, 30 de julho de 2003
Lutero, papas e liberalismo económico
Acho comovente que se cite Lutero a partir de "O Capital", mas espero que sem a intenção de sugerir aquele tipo de "genealogias do erro" tão típicas de certa apologética católica...! De qualquer forma, não valeria a pena o esforço: Lutero apenas se pronunciou contra a usura (mostrando aliás ter apreendido bem uma das ideias dominantes entre a cultura monástica católica em que se formara) e não contra o "liberalismo" - coisa que dos bispos de Roma a que eu me referia não se pode dizer. É que quando Lutero escreveu, no princípio do século XVI, sobre assuntos "profanos" como a usura, a ciência económica estava longe sequer da definição quanto mais da elaboração que já tinha quando os papas dos séculos XIX e XX começaram a redigir as encíclicas que deram corpo à chamada Doutrina Social da Igreja (Católica). Ou seja, onde Lutero reagira por "instinto", os papas reagiram elaborada e deliberadamente contra um corpo já definido de ideias. Pelo que não percebo a provocação de AAA, respondendo à minha provocação sobre a DSI com referências a Lutero e à usura - quando muito, poderia AAA citar o "social gospel" que atravessou boa parte das denominações protestantes no século XX (sobretudo as mais "instaladas"), mas eu gostaria de ver, do lado católico, críticas tão consistentes às falácias do socialismo cristão (do ponto de vista evangélico) como aquela que se encontra nos escritos do Rev. Edmund A. Opitz (veja-se o seu livro "The Libertarian Theology of Freedom") - ou à presença do Estado na educação como visceralmente incompatível com a liberdade de consciência dos cristãos, que se lê nos textos do Rev. J. Gresham Machen.
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