quarta-feira, 7 de dezembro de 2005

Oliveira Martins, coveiro do padrão-ouro português


A multiplicação do crédito não teve de esperar pelo papel moeda de curso forçado; já se dava sob o padrão-ouro com o sistema de reservas fraccionais. E foram as crises bancárias criadas por esse sistema que serviram de justificação para acabar com o padrão-ouro, culpando-o de "instabilidade" e considerando-se necessária a intervenção estatal na matéria. Em Portugal, a crise bancária de 1876 (que dizimou a finança portuense) foi apresentada, entre outros, pelo coveiro intelectual do liberalismo (Joaquim Pedro de Oliveira Martins) como a prova da necessidade de um regime de papel moeda monopolista gerido pelo Estado. Herculano, em correspondência da época, ainda disse o obvio, que a crise se devia às reservas fraccionais e que era suficiente ou ilegalizá-las ou responsabilizar criminalmente os banqueiros que não pudessem entregar o ouro resgatado pelos seus depositantes. Mas a influência das ideias de Oliveira Martins (e do seu livro "A Circulação Fiduciária") fez o seu caminho e quando se deu a crise financeira de 1891 já havia no nosso país muito pouca resistência ideológica ao abandono então verificado do padrão-ouro. Oliveira Martins, com o saber impressionista e romanceado que lhe era próprio, que criou do regime liberal uma imagem negra e caricata, que antecipou como ideal político pós-liberal o cesarismo administrativo e o corporativismo de Estado, foi também entre nós o grande doutrinador da liquidação do padrão-ouro. Bem merece o cognome de "coveiro do liberalismo português".

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