quarta-feira, 7 de dezembro de 2005

Re: Re: Salários e Capital... II

* "Eu sei que os "austríacos" não acreditam na economia matemática, mas há quem tente calcular o impacte dos diversos factores no crescimento económico. Segundo um desses estudos (fonte: Samuelson, 12ª Edição portuguesa), os 3,2% de crescimento económico anual dos EUA entre 1948 e 1981 foram: 0,6% aumento da quantidade de trabalho, 0,5% aumento do capital, 0,6% aumento do nível de educação e 1,5% progresso técnico/outros factores; ou seja, parece que o contributo da educação, tecnologia e "outros" é quase o quadruplo do da acumulação de capital."

Tem toda a razão, para os "austriacos" as estatísticas sociais são meras fotografias, não se deduzem delas leis da acção humana. E ainda menos se tiram inferências a partir de estatísticas de chamados "agregados" económicos, cujo problemas na sua própria construção e medição são inúmeros.

Mas continuemos... a educação e a ciência indicam-nos caminhos de como combinar recursos (transformando-os em bens de capital) da melhor forma para produzir algo. Mas falta o elemento empresarial.

Este é uma espécie de "adivinho" que de cientifico tem muito pouco. Pode utilizar o conhecimento de cientistas e técnicos, mas a sua função é "adivinhar" que combinando determinados recursos de uma certa forma, consegue produzir um dado produto ou serviço que vai ser comprado voluntáriamente pelos consumidores. E ainda por cima, consegue convencer uma série de aforradores a arriscarem a sua poupança nesse projecto. Não existe nada de mais humano que esta actividade, uma combinação de racional com irracional, e a obtenção da cooperação de aforradores e trabalhadores (e ainda fornecedores, etc), sendo que no fim destina-se a tentar produzir algo que o consumidor o queira comprar voluntáriamente a um preço que pague todos os factores de produção.

A produtividade do trabalho aumenta com a acumulação de capital (disponibilidade de bens: casas, rua, fábricas, máquinas, escolas, jardins, etc) e cada geração beneficia de todo o Capital acumulado até à data por todas as gerações anteriores, e que lhe permite auferir de um determinado nivel de vida (capacidade de adquirir, produzir e consumir) - que tal esta "Desigualdade" entre gerações...será injusta?

* "Aliás, se a causa do crescimento económico fosse a acumulação de capital, Karl Marx estaria certo - o capitalismo estaria condenado ao colapso inevitável"

Isto está trágicamente errado. Crusoe poupa, e essa poupança permite a produção de "ferramentas" (no fundo as maçãs poupadas e depois consumidas transformaram-se num bem de capital que aumentam a sua capacidade produtiva (com os novos instrumentos, passa a apanhar maçãs em metade do tempo, passando assim a poder dedicar metade do dia à construção de uma agradável cabana). Com o tempo, acumula Capital.

As máquinas não competem com os trabalhadores. Quando uma nova máquina (mais Capital) melhora um processo produtivo que era antes manual (acção que se pode dever a um novo conhecimento cientifico), diminuindo o custo de um determinado produto e com isso poupando-se em termos globais por exemplo 1000 Euros (ou seja, o mesmo consumo por toda a economia daquele produto passa a custar menos 1000 Euros), isso significa que passam a sobrar 1000 Euros na economia. Esses 1000 Euros "poupados" permitem o consumo adicional de 1000 Euros num produto adicional que vai necessitar de trabalho adicional.

Ou seja, quem podia consumir com o mesmo salário o valor de X de bens e serviços, passa a poder consumir X+Y (sendo o consumo adicional de Y devido à poupança dos 1000 Euros, porque o preço de X diminuiu ligeiramente com a baixa do seu custo, sobrando portanto agora Y).


O que mais podiamos desejar é que fosse possível substituir todos os processos actuais por Robots (mais Capital), porque isso significaria que para além de termos disponiveis todos os actuais produtos, passariamos a dispor de muitos mais produtos e serviços adicionais produzidos pelos mesmos trabalhadores.

E este é o sentido do ignorado quando não ridicularizado "A produção cria a sua própria procura".

Numa economia com quantidade de dinheiro fixo (é um instrumento de análise muito poderoso imaginar que a quantidade de dinheiro na economia é fixa, porque em boa verdade, qualquer quantidade de dinheiro é suficiente, não existe utilidade social alguma no aumento da quantidade monetária), tal significa que os preços descem. E o mesmo salário fixo tem capacidade de consumir mais produtos (produzido este incremento do "Produto Total" com os recursos entretanto libertados/poupados).


Conclusão:

A acumulação de Capital não cria desemprego, é sim responsável pelo aumento dos salários e/ou a diminuição dos preços na economia. A única fonte de desemprego é o voluntário e as barreiras ao livre contrato entre as partes.

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