quarta-feira, 7 de dezembro de 2005

Re: Re: Salários e Capital... e a economia de Crusoe

No Vento Sueste.

* "Se os capitalistas fossem constantemente investindo em mais bens de produção, em breve o progresso económico pararia: se, na Idade da Pedra, tivesse havido uma super-acumulação de pedras lascadas, isso pouco progresso teria levado - em pouco tempo, o contributo adicional de mais uma pedra lascada para a produtividade total seria nulo."

É evidente que o investimento tem de corresponder à produção de algo que os consumidores queiram comprar a um preço que pague todos os factores de produção. Senão, o investimento siginificaria apenas a destruição de capital (de recursos disponiveis), diminuição da produção e empobrecimento geral (ex: descida de salários).

Na medida em uma economia livre assegura (por trial and error ou prejuízo e lucro) que os investimentos se adequam às preferências dos individuos, tendo em conta a poupança existente e a preferência temporal (taxa de juro)...assim...

O investimento contínuo (possível pelo acto contínuo de poupança, dos indivíduos e empresas) assegura o crescimento do capital (versus oferta de trabalho) existente e com isso, o da produtividade.

* "O que origina o crescimento do nível de vida é o progresso tecnológico, que, por vezes, pode estar associado a maior uso de capital, mas não necessariamente: a substituição da rotação bienal de culturas pela trienal não implica maior uso de capital; a miniaturização dos chips informáticos significa menos utilização de capital para fazer a mesma tarefa."

"não necessariamente" só em exemplos muito limitados de uma economia muito básica, porque "a miniaturização dos chips informáticos " com toda a certeza implicaram investimentos adicionais. Para pagar investigação pura, por exemplo, é preciso pagar salários. O conjunto de salários pagos em investigação pura sem a produção de nada têm de ser financiados por capital (poupança gerada anteriormente). Já a concretização prática, precisa de investimento adicional em recursos fisicos, etc.


* "Então, quem é o responsável pelo progresso..."

Se temos de eleger "Um" responsável esse será: A poupança de todos aliada a alguém com a capacidade empresarial de a investir na produção de algo a um preço tal que será consumida voluntáriamente, e assim pagando todos os factores produtivos. Quanto o retorno é muito alto, é isso que cria o incentivo ao investimento adicional nessa produção até que o retorno corresponda a uma taxa "normal".

E hoje, capitalistas somos todos os que poupando, emprestamos dinheiro aos Bancos (os nossos depósitos), investimos em acções, etc. Empresários é que existem menos.

* "Aliás, se a causa do crescimento económico fosse a acumulação de capital, Karl Marx estaria certo - o capitalismo estaria condenado ao colapso inevitável:"

Sim, o crescimento económico deve-se à acumulação de capital e Marx estava totalmente errado, assim com Keynes que tentou afirmar que a taxa de retorno descia com o tempo.

Acumular capital significa passar a ter recursos disponiveis que multiplicam a produtividade de homem (o mesmo esforço fisico e intelectual é "multiplicado").

Falemos de Crusoé, sozinho na sua ilha. Quando ali chega passa os dias a apanhar as 10 maçãs necessárias para a sua alimentação diária.

Um dia lembra-se que se construir um palhota e umas ferramentas pode aumentar o seu bem estar, produzindo arroz ou criando animais, ou por hipótese, apanhar as 10 maçãs em muito menos tempo.

Mas para o fazer tem de deixar de apanhar as 10 maçãs durante 30 dias. Então, traça um plano de poupança de maçãs até juntar as 300 necessárias, e assim poder parar de as apanhar durante os tais 30 dias, ficando com tempo para a construção das tais ferramentas.

A construção dos tais instrumentos representam acumulação de capital, e isso permite-o aumentar a produção, para o mesmo esforço fisico por periodo de tempo.

PS: Já agora, o problema dos ciclos económicos provocado pela expansão de crédito sem poupança, pode ser em parte visualizado no exemplo de Crusoé. Ele pensa que tem as 300 maçãs necessárias aos 30 dias para construir as suas ferramentas mas afinal só tem 200. Ou seja, teve de parar o projecto antes de o acabar. No fundo, o que se passou é que tinha "notas" que representavam 300 maçãs depositadas e poupadas, mas como as reservas eram parciais, quando as levantou só tinha 200. Numa economia monetária, os erros são ainda mais complexos e com mais consequências, os projectos não conseguem ser retomados mais tarde, ou seja, o investimento é perdido (destruição de capital), etc.

Sem comentários:

Enviar um comentário