terça-feira, 10 de janeiro de 2006

Macro-causa: Por um referendo sobre a Ota e o TGV

No Blasfémias:

Um grupo de cidadãos, não compreendendo os motivos que levaram às tomadas de decisão de gastar o absurdo montante de 11.000.000.000 - onze mil milhões de euros - em projectos megalómanos, mais os habituais 30%, 70%, 110% ou 150% de desvios, obras a mais e alterações de projectos, a que acrescem os projectos acessórios, muitos outros milhões para acessibilidades e mais o que se lembrarem os que vierem depois, não se deixando impressionar pela cacofonia ensaiada dos estudos de encomenda que, quando suportam a decisão previamente tomada são tornados públicos e quando demonstram o contrário são ignorados e escondidos, pede encarecidamente aos senhores deputados da nação, por eles eleitos, que ouçam a voz dos que os elegeram.

Estes cidadãos gostavam de sentir uma pequena brisa de cidadania, provar uma gota de participação cívica ou carreagar um grão de poder, opinando em liberdade sobre este gigantismo dos milhares de milhões, dos dez zeros que valem uma dúzia de pontes Vasco da Gama, muitas dezenas de Casas da Música e de CCBs, mais de uma centena de hospitais ou um milhão de carros utilitários.

Estes cidadãos gostavam de convocar um referendo em seu nome e dos seus filhos e dos filhos dos seus filhos a quem a factura também vai chegar. Estes cidadãos gostavam de participar livremente num verdadeiro debate público sobre estes investimentos multigeracionais, gostavam de sentir-se incluídos num relevante processo de escolha pública cujas consequências poderão ser bem diferentes das do prometido paraíso da riqueza explosiva.

Estes portugueses querem exercer a sua cidadania, sentir o poder dos cidadãos, ajudar o governo a aperfeiçoar a democracia, valorizar a intervenção cívica, participar intensamente na vida pública - afinal, querem apenas que os autores das citações que encabeçam este texto ponham em prática o sentido das suas proclamações públicas.

Estes eleitores e contribuintes, sabendo que a lei do referendo foi feita justamente para impossibilitar que grupos de cidadãos os convoquem, pedem encarecidamente aos senhores deputados da nação uma ajudinha. Façam-no, em nome de quem os elegeu.


A carta enviada ontem aos 230 deputados da nação está disponível aqui.

Post anteriormente publicado no Insurgente.

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