quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

Anomia internacional

"Militares britânicos acusados de equiparem grupos armados iranianosIrão acusa Reino Unido de envolvimento nos atentados em Ahvaz O Irão acusou hoje o Reino Unido de envolvimento nos atentados que ontem fizeram oito mortos em Ahvaz, uma cidade de maioria árabe no sudoeste do país. A acusação já foi rejeitada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros."

PS: Independentemtente da veracidade, o estado de anomia ("no rules") nas relações internacionais está cada vez mais perto. O conceito de direito internacional (com origem na experiência de séculos de convivência entre Estados de forma a minimizar os conflitos) parece já não fazer sentido para ninguém (a própria direita parece já nem saber o que tal seja). Toda a gente pode intervir em todo o lado. E isso mais a mania das alianças cruzadas só pode conduzir, claro, à maximização da probabilidade de guerras generalizadas entre Estados, por assuntos menores ou que não deviam dizer respeito.

O mundo não aprende nada. E é que agora, à direita só ouço falar de direitos humanos, das mulheres, da democracia (nem os casos proto-democráticos passam, só mesmo total democracia e voto universal), das revoluções e invasões por grandes causas, contra o fassismo, o despotismo teocrático, contra as excentricidades conservadoras morais e religiosas islâmicas. Não existe assunto e ordem social que diga respeito apenas aos outros e não a nós.

Vamos revisitar a "Grande Guerra"?

1- O Príncipe herdeiro do Império Austro-Hungaro é morto por um atentado terrorista financiado peos serviços secretos Sérvios.
2- A Áustria faz um ultimatum à Sérvia.
3- A Rússia é aliada da Sérvia.
4-A Alemanha do lado da Aústria e pede para a França não se intrometer (entretanto, o Kaiser é neto da Rainha Vitória e primo do Czar).
5- A França (um república iluminista que se lembra de ser aliada duma monarquia "absoluta") é aliada da Rússia.
6- A Alemanha entre duas frentes à muito que sabe (e era conhecido) que o seu único meio de saída militar é derrotar a França em tempo recorde e deslocar as tropas para a Rússia. Para isso "passa" pela Bélgica dando garantias de preservação da soberania e oferecendo o pagamento de danos.
7. A Inglaterra (um Império com 25% do território e população mundial), cuja população, o parlamento e o próprio governo, não sabia que de acordos (não tratados) com a França, conta com Churchill (germanofóbico) como o entusiasta pela entrada na Guerra.
8. A Inglaterra impõe o bloqueio maritimo mercantil (contra a noção de direito internacional vigente). Começa a campanha de informação que mais tarde Hitler menciona no seu livro e Goebbels refere como inspiração. São espalhados relatos e cartazes falsos da violência alemã na Bélgica, matança de crianças e violação de mulheres.
9. O navio Lusitânia carregando armas mas também passageiros americanos é afundado pelos submarinos alemães.
10. Wilson usa o acontecimento juntando um absurdo "guerra para acabar com as guerras" e "pela democracia" (como se a Alemanha e Aústria não tivessem já as suas Diets com eleição universal). Wilson acima de tudo é anti-monárquico mas em especial anti-império Austro-Húngaro. Wilson impede mesmo que as monarquias cheguem a um acordo aceitável como sempre foi tradição.
11. A Itália escolhe os "aliados" como meio de apanhar despojos de guerra (colónias). Facto mais tarde que está na origem do ressentimento fascista Italiano. Os Turcos escolhem os impérios centrais.

Intervalo para respirar: como se vê, em linguagem moderna e iluminada, os "aliados" ficaram do lado do Estado terrorista Sérvio.

12. O Império Britânico e Franceses repartem ainda durante a guerra o mapa da península àrabe. Na Palestina, é prometida soberania a judeus e árabes, por causa da luta contra os turcos. Mais tarde são criados países artificiais como o Libano e Siria (França) e Iraque (Império Britânico).
13. Na Rússia, Lenine chega (foi posto no comboio pelos alemães) e promete a paz. Wilsoninsistiu para que o Czar continue na guerra e os próprios sociais-democratas apoiam. Mas com o enfranquecimento do regime (e a maior deserção da história), a revolução dá-se e passado algum tempo, os comunistas, num golpe de Estado tomam o poder.
14. Depois da entrada americana, o discurso da Wilson e os seus 14 pontos, os alemães depõem as armas e retiram-se para a Alemanha.
15. Durante os próximos 9 meses (!!!), apesar dos alemães retirarem e aceitarem a proposta de Wilson, os "aliados" continuam o bloqueio alimentar, matando à fome centenas de milhares de alemães, até que estes (entretanto, é durante este periodo que o Kaiser "cai", e é já a república que assina tal tratado, o que não abonou a favor da sua estabilidade futura) são obrigados a assinar o" Tratado" de Versailles (a Áustria é reduzida em 75%, são criados paises artificiais como a Jugoslávia, a Checoslováquia, uma boa parte da população alemã fica assim espalhada fora da germânia, isso inclui a Polónia. A nova república é obrigada a assinar com tendo sido a "única" responsável pela guerra e a compensar todas as partes), que todo os diplomatas assumem como um erro.
16- O Senado Americano por duas vezes recusa o tratado de Versailles. É com a observação dos resultados da Grande Guerra que se forma o movimento isolacionista americano.
16. As monarquias na Europa caiem, com o tempo, são substituidas pelo fascismo e nazismo e a ameaça comunista. O Império Britânico vê aumentada a sua influência.
17- O Padrão Ouro desaparece coercivamente. As antigas liberdades do Liberalismo Clássico nunca mais voltam. Mais tarde, depois de um conflito que era já considerado inevitável à saida de Versailles, é Estaline que sai vencedor da Segunda Grande Guerra.

PS: Fico á espera que um simples enunciado de factos (com algumas considerações óbvias) que se encontram em qualquer enciclopédia seja considerado um post "revisionista".

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