domingo, 8 de janeiro de 2006

A propósito do Cambodja

No Público: "No dia em que o Camboja comemorou a queda do regime Khmer Vermelho, as autoridades proibiram uma manifestação contra a invasão vietnamita, que se lhe seguiu. Grupos de direitos humanos e alguns responsáveis ocidentais estão cada vez mais apreensivos com as restrições e detenções de activistas.O Governo do primeiro-ministro Hun Sen organizou ontem comemorações para assinalar os 33 anos da queda de um dos regimes mais brutais do século XX. O derrube dos khmers vermelhos foi, no entanto, seguido por uma década de ocupação do país pelas tropas do vizinho Vietname."

O texto é igual a muitos outros textos. Não assume que quem acabou com o genocídio dos khmers vermelhos foram os Vietnemitas. Até parece que os Cambodjanos primeiros sofreram o genocídio e depois de este ter acabado foram ocupados.

A realidade ainda é pior do que isso: O regime do Príncipe foi derrubado pelos khmers vermelhos na sequência do conflito do Vietname e o alastramento secreto dos bombardeamento ao Cambodja (o Príncipe adoptou a posição tradicional de neutralidade ganhando por isso a inimizade dos EUA e votado ao desprezo ... foi deposto e substituido pelos khmers vermelho) em guerra civil entre comunistas (apoiados durante a Segunda Guerra) e um regime corrupto a Sul e com pouca adesão popular (talvez se lembrem das imolações de monges budistas...). Depois, foram os comunistas vietnamitas a invadir o Cambodja e por termo ao regime, por mim, sempre faz mais sentido alguém incomodar-se com o quintal do lado, que com um quintal do outro lado do mundo. A verdade? Não existiu dominó, provocaram foi um dominó estranho, porque nada ligava os "Khmers" aos Vietnamitas.

Repare-se que no fim e ainda assim, existem ainda manifestações contra a invasão por parte do Vietname. A verdade é que uma Nação é uma entidade independente com pernas para andar quando assume que trata dos seus próprios problemas, incluindo os seus próprios tiranos, e isso inclui viver sob comunismo, ditadura ou monarquia absoluta, escolhendo não se revoltar ou aceitar as condições do momento porque se calhar estão à espera que o tempo resolva as coisas e que isso é mesmo o mal menor no longo prazo.

Diz-se que a Coreia foi um caso de sucesso, mas não sabemos o que teria acontecido se tivessem sido deixados a si mesmo (para não falar que era uma colónia do Japão perfeitamente dominada até este ter sido transformado numa pomba). Seguramente a paranóia do regime a Norte alimenta-se da tensão desde a divisão do país e a presença americana. O desastre do Vietname aconteceu porque a Coreia marcou o primeiro conflito onde a exclusiva competência do Congresso para declarar guerra não foi observado. Uma das razões evocadas pelos regimes repúblicanos era precisamente que as guerras fossem decididas por um processo e não pela alegada vontade do monarca. Ao baixar os padrões morais na Coreia (na medida em que o poder executivo acabou por impor mais um poder), tal permitiu que muito pior fosse feito no Vietname: o causus bellis foi fabricado, e o conflito conheceu enormes ilegalidades, indo tudo desaguar a Nixon.

E se na Coreia, ainda Congresistas e Senadores conservadores evocavam os princípios de validade da não -intervenção e criticavam abertamente a doutrina Truman e em especial a sua decisão de lançar duas bombas atómicas (A National Review na altura publicava estes textos), no Vietname, já só personalidades como Murray N. Rothbard o faziam totalmente isolados, diga-se que acompanhados por libertarians como Liggio (recentemente foi Presidente da Mont Pelerin). Isto é um texto anti-americano? Não. È uma evocação de um americanismo esquecido, provavelmente para sempre.

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