domingo, 15 de janeiro de 2006

Capitalismo e protestantismo: comentário de Patrícia Lança

Saudações! Só hoje é que descobri o vosso blog devido à leitura do excelente comentário de Luís Aguiar Santos sobre a campanha presidencial no DN de hoje. Eis a minha primeira participação:

Sem querer diminuir o valor das contribuições de Weber e Tawney para o estudo da relação entre a religião e o desenvolvimento do capitalismo, julgo que um apontamento de Hayek seja relevante no contexto da actual discussão:

“Long before Calvin the Italian and Dutch commercial towns had practised and later the Spanish schoolmen codified the rules which made the modern market economy possible. See in this connection particularly H.M. Robinson, Aspects of the Rise of Economic Individualism (Cambridge, 1933) a book which, if it had not appeared at a time when it practically remained unknown in Germany, should have disposed once and for all of the Weberian myth of the Protestant source of capitalist ethics. He shows that if any religious influences were at work, it was much more the Jesuits than the Calvinists who assisted the rise of the ‘capitalist spirit’.” F.A.Hayek, Law, Legislation and Liberty, London, 1998, p.203, n. 44.

Seguindo o pensamento de Hayek, acrescentaria que o progresso do capitalismo e da ética capitalista nos países anglófonos numa fase ulterior aos “Spanish schoolmen” teria mais a ver com o desenvolvimento das instituições num ambiente tendencialmente democrático. Esse ambiente fora, sem dúvida, em grande parte devido à pluralidade das confissões protestantes, especialmente no que veio a ser os EUA, e a consequente necessidade da tolerância. Mas foi também significativo no desenvolvimento dessas instituições na Inglaterra (depois transplantadas para a América do Norte) a própria posição insular do país, por conseguinte com fronteiras mais seguras, a qual possibilitou uma monarquia menos centralizada, mais autonomia para os municípios e o que se pode chamar a inexistência para efeitos práticos de um “ancien régime” à maneira continental.

Ao verificar o relativo atraso da América Latina, os comentadores, inspirados na tal mitificação das téses Weberianas, atribuem muitas vezes as culpas ao catolicismo dos seus colonizadores. No entanto a mais provável explicação é capaz de estar relacionada com a falta nos paises metropolitanos das condições acima referidas.

Patrícia Lança
(Recebido no correio da Causa Liberal; publicação autorizada).

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